biografia
Gilda Kuitá
Autor(es): Éder da Silva Novak , Isabel Cristina Rodrigues , Lúcio Tadeu Mota
Biografado: Gilda Kuitá
Nascimento: 1956
Povo indígena: Kaingang
Estado: Paraná
Categorias:Biografia, Etnias, Kaingang, Estado, Paraná
Tags:Feminino, Kaingang, Paraná
Histórias de Gilda Kuitá: Uma Jê no Sul do Brasil
Gilda em sua casa. Fev/2018. Foto: João Rodrigues Peralta
Apresentação
Este trabalho apresenta a biografia de Dona Gilda Kuitá, que reside na atual Terra Indígena Apucaraninha, no município de Tamarana – Paraná. Nascida em fevereiro de 1956, portanto, com 62 anos de idade, Dona Gilda tem suas origens no povo Xokleng, especificamente do vale do rio Itajaí, em Santa Catarina, onde hoje é a Terra Indígena Ibirama/La Klãnõ. De toda forma, suas raízes também tem laços com a etnia Kaingang, principalmente do vale do rio Tibagi, no Paraná.
Por sua história, Dona Gilda se autoafirma Kaingang, tendo fluência nesta língua, mas também com algum conhecimento da língua Xokleng. A história da vida de Gilda representa não apenas a sua luta individual, mas de toda uma etnia ou de todos os povos indígenas do Brasil, para sobreviver junto as arbitrariedades e violências cometidas por agentes dos órgãos indigenistas, representantes do poder público, fazendeiros, entre outros.
Tendo-se casado duas vezes, Dona Gilda constituiu uma família numerosa. São 6 filhos (as), 19 netos (as) e 4 bisnetos (as), além de 6 genros e 3 noras. Assim, sua casa sempre está com muita gente presente. Torna-se mister demonstrar a historicidade de Dona Gilda, suas origens familiares em Santa Catarina, sua infância no Paraná, sua formação no Rio Grande do Sul, suas atividades na FUNAI em várias áreas indígenas do Paraná, seu engajamento político no movimento indígena, toda a sua genealogia, enfim, sua participação ativa e diária para a garantia dos direitos de sua família, da sua comunidade, da sua etnia e dos povos indígenas no Brasil.
As origens familiares e o nascimento da menina Gilda Kuitá
Gilda Kuitá nasceu em fevereiro de 1956, no Território Indígena Xokleng, no vale do rio Itajaí, em Santa Catarina, atual Terra Indígena Ibirama – La Klãnõ, que comporta um pouco mais de dois mil indígenas, das etnias Guarani, Guarani Mbya, Guarani Ñandeva, Kaingang e Xokleng.
Torna-se mister retomar sua genealogia a partir do seu avô Koindu – em Kaingang significa jacu do mato. Conhecido também como Jango, o avô de Gilda, pai de sua mãe, era Kaingang do Território Indígena Apucarana.[4] Segundo Dona Gilda, seu avô foi para o Território Xokleng, em Santa Catarina, na época do contato, durante a primeira metade do século XX, sem saber informar exatamente o ano ou a década deste acontecimento. Ela afirma que Koindu foi transferido pelo SPI, para colaborar no contato e na pacificação dos Xokleng, evidenciando uma aproximação do avô com a estrutura do órgão indigenista.
E daí ele foi. Levaram ele. E nesta época eles estavam fazendo contato lá […] que era o chefe deles. O dia que eu fui para lá, agora no natal e ano novo, meu cunhado contou muitas histórias. Ele estava contando as histórias de lá né, da vida deles. E aí ficou (o avô) um tempo lá, que a língua Kaingang é quase igual, é igual o espanhol e o português. E aí ele começou a fazer plantação, foi, foi, daí ele retornou para buscar minha família. (GILDA, 2018).
Entretanto, no retorno para o Território Indígena Apucarana o avô encontrou sua mulher grávida e não quis mais manter o relacionamento.
Aí ele disse para filha dele, eu vim buscar vocês, sua mãe não vou levar. Aí ele tinha uma filha viúva, que tinha uma filha também, se vocês quiserem ir comigo vocês vão. E aí foram os quatro filhos com ele e dois netos, uma filha é casada, a outra era viúva, levou a filha dela, o outro era casado, levou a mulher, tudo assim. E daí como o mais novo era guri grande, ela fala, devia ter uns 10 anos […], todos estes meus tios eu conheci, só não conheci o homem que foi marido dela. Mas a viúva eu conheci, minha tia Rosangela (GILDA, 2018).
O retorno do avô com a família para Santa Catarina significou o encontro com outros indígenas, novos relacionamentos e muitas amizades. Segundo conta Dona Gilda, muitos Xokleng “viviam no mato” e vinham até o Posto Indígena onde estava seu avô e familiares.
[…] Aí brigaram, mataram muito, aí voltaram para o mato. É a segunda vez que meu avô ajudou. Ficaram muito pouco tempo fora, e aí ele conversava com eles tem que resolver se não vocês vão ficar brigando, ficar brigando […]. E foi aí, minha mãe conta assim, essa é irmã dela, que contava a história para ela, e aí a tua mãe, ela fala para ela, a tua mãe era mocinha, ela falava para ela, estava começando a sair o peito dela […] aí ficaram por ali. E meu avô casou com essa mocinha Xokleng, […] minha avó. (GILDA, 2018).
Dona Gilda narra que os índios gostavam muito do seu avô Koindu e que obedeciam mais a ele do que ao próprio chefe do Posto, representante do SPI. Entre outras histórias contadas por sua mãe Dona Gilda destacou a morte do seu avô:
Mas daí o que ela contava, deu uma gripe, ele ficou com febre, febre, febre, e aí o chefe do Posto pegou um remédio para ele, e disse para ele tomar esse remédio que vai ficar bom, e ele tomou esse remédio, depois que ele tomou esse remédio começou a passar mal e morreu. Na hora ninguém pensou, mas hoje eu penso que ele deu alguma coisa para o meu vô e ele morreu. Então a conclusão é que ela achava […] ele não estava tão ruim, só a febre, depois que ele tomou o remédio que ele passou mal. (GILDA, 2018).
Do relacionamento do avô Koindu com a jovem mocinha Xokleng nasceu a Pripra, mãe de Gilda Kuitá, que finalizou esta passagem da história contando que a mãe era muito criança quando Koindu morreu e a avó da Dona Gilda casou novamente e teve mais duas filhas, morrendo no último parto. A recém nascida acabou falecendo também “[…] aí essa menina, é outra menina lá, morreu, porque não tinha como cuidar, dava água com açúcar para ela ou mel, mas aí ela morreu.” (GILDA, 2018). Dona Gilda lamentou a morte da avó ainda muito nova, entre 20 a 30 anos.
Em relação aos avós paternos Dona Gilda revelou que eram Xokleng e que “vieram do mato”. Contudo, o pai dela, Kuitá, nasceu no Posto Indígena. Os avós paternos de Gilda também morreram novos, enquanto Kuitá era uma criança. Por meio de histórias contadas pela sua mãe, Gilda afirma que a morte dos seus avós paternos decorreram do impacto do processo de pacificação dos Xokleng em Santa Catarina, devido a nova forma de vida, a diferenciada alimentação e as doenças, que acabaram aniquilando muitos indígenas naquele contexto.
Dona Gilda conta que seus pais foram crescendo no La Klãnõ e se conheceram e acabaram se casando. Ainda neste local tiveram três filhos: Alexandrina, que nasceu provavelmente em 1947; Paulo, em 1951; e a Gilda, em 1956.
Dona Gilda diz que sua mãe contava muitos acontecimentos do La Klãnõ. Afirma que os indígenas trabalhavam na plantação de arroz e outros alimentos, cuidavam dos animais, “tudo com a mão de obra dos índios.” (GILDA, 2018). Algumas mulheres indígenas faziam a comida e levavam para os que estavam trabalhando. Conforme Souza Lima (1992), a política indigenista do SPI cobrava a autonomização econômica dos Postos Indígenas, por meio do uso da mão de obra indígena, com a alegação de transformação deste em um trabalhador nacional.
Conforme Dona Gilda, era um momento muito conflituoso naquela localidade, com muitas mortes, inclusive de seus familiares. Ela afirma que o sofrimento era grande porque o chefe do Posto “matava, instrumentava arma, compraram uma arma, vamos ver se é boa” (GILDA, 2018) e atirava contra os indígenas. Entretanto, além de exemplificar estas ações violentas, Gilda evidencia a resistência e a estratégia indígena para fazer frente aos agentes do órgão indigenista.
É, e aí mataram o filho desse meu tio. Meu tio também veio pra cá, veio uma vez pra cá […] O nome dele, ele foi […] eu me lembro foi ele e mais outro irmão dele casado e foi as duas irmãs. E aí mataram esse, Brasilio Cripá, ele veio para denunciar os chefes na época, era lá no Rio de Janeiro, e aí ele foi pro Rio de Janeiro, imagina o sofrimento do rapaz sair dali, hoje ainda é difícil o transporte lá. O transporte deles era via rio, o rio, como que é, rio Itajaí. […] Eles iam fazer compra de canoa, o chefe não deixava ninguém sair quando eles mataram esse rapaz. Mas esse rapaz foi para Brasília […] Sei lá como é que foi, de carona sei lá, é que ele chegou lá. Com o tempo ela fala, dois meses três meses. Quando ele voltou de lá, ele veio com uma carta. E aí ele chegou, ele já estava esperando ele, ele tinha capanga com o chefe […] qualquer barulho eles atirava né e aí os outros dias de tarde nós vamos levar lá para eles, deixa que nós vamos levar lá pra ele que ele está esperando. Aí ele foi, quando ele foi ele deixou combinado de entregar quando ele voltou atiraram nele, mataram ele, aí deu uma confusão, sofrimento, sai de canoa do mato pra ir comprar um quilinho de qualquer coisa, se não comia sopa … com farinha, fazia fubá, come muito fubá lá. Plantava milho debulhava na mão uns 4, 5 sacos de milho e levava de canoa para lá onde eu falei pra você, lembra, assim meu pai ia vender […] tinha que chegar antes de amanhecer se não eles atiravam assim […] foi quando nós viemos. (GILDA, 2018).
Se por um lado, não se pode deixar de relatar as atrocidades cometidas contra todos os povos indígenas do Brasil, por outro, “importa recuperar o sujeito histórico que agia de acordo com a sua leitura do mundo ao seu redor, leitura esta informada tanto pelos códigos culturais da sua sociedade como pela percepção e interpretação dos eventos que se desenrolavam” (MONTEIRO, 1999, p. 248). Da mesma forma, entender as ações e estratégias dos indígenas em cada contexto e suas interações com demais sujeitos, na escala local, regional, nacional e mesmo transnacional (OLIVEIRA, 2016, p. 7).
Neste tocante, o pai e a mãe de Dona Gilda saíram do La Klãnõ, deslocando-se para o Território Indígena Apucarana. Isto se deu entre 1956 e 1957, com a vinda do pai Kuitá, da mãe Pripra, da irmã Alexandrina, do irmão Paulo e da bebê Gilda. Já nos Territórios Indígenas da bacia do rio Tibagi os pais de Dona Gilda tiveram mais uma filha, Rosa Kuitá. Os demais familiares (seus tios e tias) que tinham ido com o avô Koindu ficaram em Santa Catarina.
E aí minha mãe falava como queria conhecer o lugar da, do pai dela né, dos parentes dela, porque estava muito sofrimento lá e vieram para cá. Quando chega aqui mesma coisa. (GILDA, 2018).
A saída do avô Koindu do Território Indígena Apucarana, o interesse da mãe Pripra e o retorno ao local de origem de sua família e a presença hoje de Gilda na Terra Indígena Apucaraninha são reveladores das diferentes estratégias de seus familiares na luta para a defesa dos seus interesses, sobretudo, dos seus territórios. Esta luta precisa ser compreendida com a ideia de Territorialidade (OLIVEIRA, 1998), que reflete não apenas a história da vida familiar de Gilda Kuitá, mas de todos os povos indígenas do Brasil: uma história conturbada, recheada de conflitos, de interesses convergentes e divergentes, que precisa ser detalhada de forma minuciosa, articulando todos os sujeitos históricos envolvidos.
A infância no Território Indígena Apucarana e outras áreas na bacia do rio Tibagi
Gilda Kuitá – margens da represa do Fiú/T.I.Apucaraninha. Fev.2018. Foto: João Rodrigues Peralta
A família de Dona Gilda chegou na região do Território Indígena Apucarana na segunda metade da década de 1950. Período de muita tensão e negociação entre os agentes do órgão indigenista e os indígenas, pois o governo do Paraná e a União tinham estabelecido o Acordo de 1949, visando a redução das áreas reservadas aos indígenas no início do século XX.[5] Entre estas áreas estava o Território Indígena Apucarana, que havia sido reservado aos Kaingang da região, ainda em 1900, com mais de 68 mil hectares.[6]
Após as constantes invasões de colonos na área indígena, no decorrer da primeira metade do século XX, a proposta do Acordo de 1949 era a redução da citada área para apenas 6.300 hectares. Obviamente esta situação gerou reações do órgão indigenista e dos grupos indígenas locais, que habitavam diferentes Toldos espalhados por uma região inclusive maior que os 68 mil hectares. Soma-se a este contexto, o fato da construção da Usina Hidrelétrica do Apucaraninha, iniciada em 1946, na margem direita do rio Apucaraninha, no interior do território destinado aos indígenas, promovendo uma dinâmica ainda mais aguçada no local, com relações envolvendo o SPI, os representantes da usina e os Kaingang.[7]
Dessa forma, Dona Gilda e sua família são sujeitos participantes de todo este processo e as histórias de suas vidas se confundem também com outras famílias Kaingang daquela localidade, que resistiram intensamente em seus Toldos de origem, articulando e desenvolvendo estratégias políticas para não se agruparem na área delimitada pelo Acordo de 1949. Tanto que apenas no final da década de 1960, ou seja, praticamente 20 anos depois, foi que o órgão indigenista conseguiu assentar os indígenas na nova área de 6.300 hectares e nas proximidades na sede do Posto Indígena, depois de muita resistência, articulações e negociações.
Sobre este contexto e a chegada de sua família ao Território Indígena Apucarana, assim Dona Gilda se expressou:
Mas então, igual eu estava falando, nós chegamos aqui mas o sofrimento era o mesmo né, correram de lá porque estavam sofrendo lá e chegando aqui, aqui o Alan não deixava ninguém sair […] ia para cadeia, apanhava de correia. Aí meu pai começava a […] lá na terra da esperança, mas já contei essa história pra ti já. (GILDA, 2018).
Alan Cardec foi o Chefe do Posto Indígena Apucarana no período de 1951 a 1964 e conduziu as negociações para a concretização do Acordo de 1949 e a delimitação da área dos 6.300 hectares. A memória da comunidade Kaingang da atual TI Apucaraninha é muito enfática ao descrever as violentas ações de Alan Cardec e suas artimanhas e mentiras para trazer os indígenas à nova sede do Posto. A narrativa de Dona Gilda deixa claro a insatisfação dos indígenas com este agente do SPI.
Em contrapartida, os indígenas, enquanto sujeitos históricos, estabeleciam suas estratégias, para fazer frente às ações de Alan Cardec, do órgão indigenista, do governo do Paraná, da concessionária de energia elétrica, dos colonizadores, etc. Com a família da Dona Gilda não foi diferente. Se a saída do La Klãnõ foi motivada pela esperança de encontrar um local melhor para viver, com menos violência, não foi isso, de imediato, que sua família encontrou no Território Indígena Apucarana. Em virtude deste clima tenso e de sofrimento, a família da Dona Gilda realizou alguns deslocamentos pelos territórios do rio Tibagi, tanto no interior de áreas reservadas aos indígenas, quanto em fazendas na região.
Inicialmente sua família chegou no Toldo Taquara, nas margens do rio Taquara: “a gente vinha um pouco, a minha mãe vieram de a pé de Londrina” (GILDA, 2018). Ela conta que pegaram o trem em Curitiba para Ourinhos (SP) e depois foram até Londrina, onde sua família desembarcou e se encaminhou para o Território Indígena Apucarana, ficando um tempo no Toldo Taquara, onde encontraram algumas famílias Kaingang. Na sequência sua família se deslocou para o Toldo Rio Preto, caminhando um longo percurso pela área do Território Indígena Apucarana. É importante observar que estes dois Toldos não configuravam mais como área reservada aos indígenas, após as negociações do Acordo de 1949.
Pressionados pelo SPI para se deslocarem para próximos da nova sede do PI Apucarana, a família da Dona Gilda resolveu cruzar o rio Tibagi e seu pai foi trabalhar em uma fazenda, no chamado Pico da Agulha, que ela afirma que era conhecido como Terra da Esperança, hoje situada no município de Terra Nova. Ela diz lembrar de um pequeno rio que passava por esta fazenda e desaguava no Tibagi. Afirmou que ela ia com seu pai e irmão pescar no pequeno rio.
Dona Gilda conta que ainda pequena se mudaram para o Território Indígena São Jerônimo e depois para o Barão de Antonina, que na época era chamado de Pedrinha, onde seu pai virou Cacique por um determinado período.
Na Pedrinha (meu pai) ficou um bom tempo de Cacique. E de lá quando nós saímos de lá […] aí ele saiu de Cacique e voltamos pro São Jerônimo. Mas aí quando voltamos a gente já era moça, Paulo já era um rapazinho. A minha irmã Alexandrina foi até trabalhar fora […] de doméstica, ficou um bom tempo trabalhando no São Jerônimo, nós sempre com a mãe e o pai, aí de lá que a gente veio pra cá. (GILDA, 2018).
O Mapa 1 apresenta os territórios indígenas na bacia do rio Tibagi em meados do século XX, norteando os caminhos trilhados pela família de Dona Gilda, em ambas as margens daquele rio, como o Apucarana e o São Jerônimo. Este último contemplava também a localidade Pedrinha, citada por Gilda, e que hoje corresponde à Terra Indígena Barão de Antonina. O Mapa 2 dá ênfase ao processo de expropriação do Território Indígena Apucarana, destacando a atual Terra Indígena Apucaraninha e os locais dos Toldos outrora ocupados pelos Kaingang, como é o caso do Toldo Taquara e Toldo Rio Preto, citados pela Dona Gilda.
Mapa 1: Territórios Indígenas na bacia do rio Tibagi na primeira metade do século XX
Fonte: Novak, 2017, p. 125.
Mapa 2: Toldos Indígenas e o processo de desterritorialização dos Kaingang do Apucarana
Fonte: Novak, 2017, p. 311.
Dessa forma, em menos de uma década a família Kuitá se deslocou por diferentes Toldos e territórios indígenas nas margens do rio Tibagi, como também propriedades particulares. Nestes deslocamentos nasceu a irmã mais nova de Gilda, a Rosa Kuitá.
Nasceu em São Jerônimo, mas não sei se meu pai fez o registro certo, ela, o meu sei lá, eu sei ela é de 58. Porque eu bem me lembro, as meninas não acreditam em mim, mas eu me lembro que minha mãe estava grávida […] eu não me lembro dela grávida, mas eu me lembro que ela estava barriguda, eu lembro dela deitada, assim numa sombra, devia estar passando mal bem barriguda e eu brincando devia ser muito pequena também […] aí eu lembro que ela empurrava a gente, não deixava ir no colo, vai brincar pra lá. Às vezes eu fico questionando quanto anos será que eu tinha. (GILDA, 2018).
Os livros de chamada e os boletins de rendimento da escola do Posto Indígena Apucarana registram a presença da menina Gilda Kuitá nas aulas a partir do ano de 1966, assim como de sua irmão mais nova, Rosa Kuitá, conforme as Imagens 1 e 2.
Imagem 1: Frequência escolar do Posto Indígena Apucarana em dezembro de 1966
Fonte: SPI, 1966, Rôlo 69, Fotogramas 65.
Imagem 2: Frequência escolar do Posto Indígena Apucarana em dezembro de 1967
Fonte: SPI, 1966, Rôlo 69, Fotogramas 65.
Em retorno ao Território Indígena Apucarana, provavelmente na virada de 1965 a 1966, a família Kuitá encontrou grande parte dos Kaingang do Apucarana vivendo nas proximidades da sede do Posto, embora a presença de tantas outras famílias vivendo nos Toldos Barreiro e Apucarana (Posto Velho) dentro da área dos 6.300 hectares e ainda a presença de algumas famílias espalhadas pelos demais Toldos fora desta área. Dona Gilda narrou algumas informações da sua infância no PI Apucarana.
Aí já tinha a casa do posto, era um casarão e estava assombrada até, tinha um poraozão, dava medo, a gente era criança, dava medo entrar. […] Mas o Toldo ainda, o cemitério era lá, quando morria alguém aqui, levava pra lá, é longe daqui. Eu me lembro quando eu era aluna lá morreu uma criança, fizeram reza tanto na escola, tanto, tanto, a professora levou nos lá no velório, pra gente rezar lá e depois a gente acompanhou o enterro daqui lá, uns 6 km por aí. […] A gente ia lá no cemitério, só que eu não lembro assim, eu lembro da gente caminhando e o corpo na frente, não lembro da gente chegando no cemitério assim. Me falha a memória. […] Quando nós voltamos pra cá, ficamos um tempo aqui, aí meu pai ficou Cacique aqui também, até esse cemitério que tem hoje ali, foi ele que daí mudou pra cá, fazer um cemitério mais perto né, aquele era muito longe. (GILDA, 2018).
Em recente pesquisa na TI Apucaraninha, na qual Dona Gilda fez vários depoimentos, muitas viagens foram realizadas por todo o antigo Território Indígena Apucarana. A Dona Gilda fez questão de parar nos locais dos antigos cemitérios e realizar suas orações e seu rituais aos antepassados. O narrativa dela demonstra o papel de liderança do seu pai, que já havia sido Cacique na Pedrinha (atual TI Barão de Antonina) e depois no PI Apucarana. Em relação aos pais ela comentou:
Minha mãe morreu lá (no La Klãnõ). Engraçado minha mãe que queria tanto vir pra cá, morreu lá, e meu pai morreu aqui, porque quando ele estava bem velho, ele queria sempre vir pra cá, eu quero morrer lá ele dizia, teve uma vez que fui visitar ele e ele disse eu quero ir pra lá não quero ficar aqui e aí eu disse eu venho te buscar. E aí acontece o acidente ele caiu da escada e quebrou a bacia, teve que fazer cirurgia, e como ele já era bem velho chamaram toda a família. Meu irmão chamou toda família para ir. (GILDA, 2018).
Na verdade, após muito tempo morando no PI Apucarana, a mãe de Dona Gilda se separou do marido. Dona Gilda já era casada e trabalhava no PI Ivaí, em Manoel Ribas. Naquele momento o irmão de Gilda – Paulo – morava e trabalhava no Rio Grande do Sul. Segundo ela, ele gostava de viajar. Dessa forma, a mãe de Dona Gilda, após a separação, acabou retornando ao La Klãnõ e lá faleceu. E o pai, que casou novamente e teve muitos outros filhos, acabou falecendo no PI Apucarana.
Dessa forma, nota-se os constantes deslocamentos da família da Dona Gilda e suas relações com os parentes de outros territórios, nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Dona Gilda narrou sobre sua primeira ida ao La Klãnõ, após a chegada ao PI Apucarana, quando ela tinha 11 anos de idade, portanto em 1967. Nesta viagem ela conheceu os tios por parte do pai. Ela lembra do tio Zé Henrique contando histórias:
Zé Henrique tava no mato tinha ido caçar, e contando a história né, contava nome de um, contava nome de outro, demorava, tinha vez que as pessoas dormiam, aí ele percebia né, aí ele parava, quando era lá pela cinco horas da manhã. Foi a primeira vez que eu fui lá visitar eles que eu vi, eu tinha onze anos, que eu vim e ouvi […] Então, pra continuar na história, aí ia contando, até amanhecer o dia e ele contando a história para terminar. (GILDA, 2018).
Gilda falou também sobre o tempo de escola no Território Indígena Apucarana, afirmando que as professoras geralmente eram as mulheres dos chefes do Posto, empregados do órgão indigenista. As aulas ocorriam numa pequena sala, ao lado do escritório e da casa do chefe do Posto. Afirmou que era em torno de 15 a 20 alunos, todos indígenas.
Só indígena. Na primeira série foi uma professora, a esposa do João Garcia. Eu falei do João Garcia né? O Alan Cardec já tinha saído. E aí, a mulher do Joao Garcia, o nome dela era Amélia. (GILDA, 2018).
João Garcia de Lima foi chefe do PI Apucarana entre 1964 a 1967, substituindo Alan Cardec. Segundo Gilda Kuitá as quatro turmas de 1ª a 4ª série estudavam juntas, na mesma sala, sob a orientação da professora Amélia, esposa do chefe do Posto. Segundo Gilda, era um fluxo constante de entrada e saída de alunos, revelando outros detalhes da escola e das professoras e chefes do Posto, durante a permanência dela nas aulas:
Não era uma aula assim, como tem agora né. Era só um período. É porque todos entravam em uma série só né. Aí quando a Amélia foi embora, aí entrou o Jonas. […] Aí depois que o João Garcia foi embora, daí veio o Jonas outra vez, daí veio a mulher dele e duas filhas gêmeas que eles tinham. Esse Jonas, na primeira vez ele veio, ele teve um relacionamento com uma índia, teve um filho. (GILDA, 2018).
Jonas Batista de Carvalho assumiu a chefia do PI Apucarana em 1967, mas pela informação de Dona Gilda, deve ter trabalhado em outros cargos naquela localidade e acabou tendo um relacionamento e um filho com uma mulher indígena. Quando se tornou chefe trouxe a esposa, chamada Ivone.
E aí a Ivone ficou, um bom tempo ela ficou, um bom tempo ela ficou. E continuava sendo lá no casarão né, era um casarão muito grande, umas áreas grandes, uma cozinhona.. E aí, o Jonas foi embora e veio o capitão Nivaldo, e aí começou a FUNAI. Quando começou a FUNAI, é que o capitão Nivaldo veio, época de militares né. Tinha capitão, sargento, tinha um monte, e aqui veio o capitão Nivaldo. Daí a prefeitura entrou também, fizeram uma negociação lá e a prefeitura fez uma escola. A escola, a primeira que construíram era ali no.. descendo aqui, num tem aquele trevinho ali, lá embaixo? Então a escola ficava naquele meio. E aí eu fui para o terceiro ano, pro quarto ano com a Julieta, lá embaixo onde eu estudava quando veio a Ivone a mulher do Jonas, estudava com nós as duas filhas dele. (GILDA, 2018).
Como se percebe, a memória da Dona Gilda traz detalhes das mudanças políticas no Brasil com o Golpe de 1964 e a criação da FUNAI em 1967, e o quanto isso promoveu mudanças na hierarquia e no funcionamento do órgão indigenista. Compreende-se que a passagem de Jonas enquanto chefe de Posto e de sua esposa Ivone, professora da escola do PI Apucarana, foi breve, aproximadamente um ano. A nova professora passou a ser Julieta, esposa do Capitão Nivaldo, que deu aula para Dona Gilda no quarto ano, em 1969. Ao citar a mudança de local da escola, Dona Gilda deu um relato sobre a merenda fornecida naquela época:
Então, quando o capitão Nivaldo veio já era FUNAI. E daí, ainda ela começou a dar aula lá no casarão, ficou lá dando um tempo e aí terminaram a escola. Aí mudamos lá, daí já era uma escola né, com cantina. E eu falo hoje para os meus netos, merenda hoje é tão bom, e eles as vezes reclamam que está ruim. Ruim era a merenda que nós comíamos, fazia até macarrão com açúcar pra nós […] Por que não faziam um macarrão bem temperadinho né? Não precisava ser com extrato de tomate, podia ser com uma cebola, um cebolão. […] Macarrão com açúcar. É, daí não comia né, hoje até que eu gosto de comer coisa doce, mas naquele tempo eu não gostava não. Mas esse macarrão doce, nossa, era muito ruim. Eu me lembro, nós já morávamos pra cá, aí essa época que o meu pai ficou cacique também. Morava lá na barragem, eu vinha na aula de lá, a pé, todos os dias. Aquela estrada dava acho que 4 km, passando no cemitério, lá embaixo, na beira da barragem lá. (GILDA, 2018).
Dona Gilda conta que vinha bem cedinho para a aula, a pé, e ia embora no sol quente, pegando um atalho, para encurtar a distância. A barragem citada é a da Represa do Fihú, construída durante a década de 1950, para a segunda fase da Usina Hidrelétrica do Apucaraninha. Hoje, no mesmo local onde era a casa do pai da Dona Gilda, nas margens da represa, há um rancho, uma casa de lazer, pertencente a uma das filhas de dona Gilda. Juntos com a equipe de pesquisa e alguns familiares, Dona Gilda, neste local, fez emocionantes depoimentos contando como era sua infância, as brincadeiras, as laranjeiras que seu pai havia plantado naquela época, a represa que ela e a mãe atravessavam de bote para visitar as famílias amigas que habitavam na outra margem, as pescarias no lago.
Além da criticada merenda fornecida pela escola, Dona Gilda conta que recebia também um caderno, lápis, borracha e as cartilhas com as lições. Ela conta uma destas lições:
Eu lembro de uma lição, que isso eu acho que, apesar de tá em português, eu acho que me ajudou. Eu sempre me lembro dessa cartilha, chamava ‘José quer saber ler’. […] era um livrinho bem pequenininho, as figuras eram tudo assim, preto e branco, não eram coloridas. E tinha uma página lá, uma lição que tinha uma figura de dois burros amarrados, mas estavam ao contrário, um pra cá e o outro pra lá, mas estavam amarrados na mesma corda. Aí tinha uma moita de capim, isso me chamou muita atenção na época. E a lição dizia assim, o nome da lição era ‘a união faz a força’, daí o professor depois que tomou nossa lição, que era a Julieta, disse: por isso que tem que ser unido quando vai fazer as coisas, tem que um ajudar o outro. Olha, um quer ir pra lá e o outro quer ir pra cá, aí nenhum come lá, nem aqui. Se os dois combinassem, eles iam pra lá, comiam lá e depois voltava pra cá e comia pra cá. Seria a interpretação que ela deu para nós né, e ela perguntou para nós, […] a gente já falava bem na época. Então, esse foi o livro né, os outros eu não me lembro nem como é que era, mas foi o que eu guardei na memória esse livro, mas as outras páginas eu também nem me lembro. (GILDA, 2018).
Dona Gilda continuou o comentário sobre a lição, dizendo que nenhum aproveitava nada. Após, citou uma outra lição, porque tinha relação com a forma de vida dos indígenas.
E aí tinha outro, que era da.. eu não me lembro direito da história, mas eu sei que a mulher ia buscar lenha. […] Daí tinha a leitura, mas não é porque eu gostei do texto, o que me chamou a atenção foi que era a foto pra mim, e a foto com cesto de lenha, isso me chamou a atenção. Não foi a lição, não é a leitura nada, era a foto que tava carregando um cestão de lenha. Então isso pra mim, é que eles lenhavam também né, igual nós. (GILDA, 2018).
Quanto aos conteúdos Dona Gilda disse que ensinavam o nome de presidente, nome de outras autoridades, que era cobrado na prova, durante o quarto ano, cantava o hino nacional, tantos outros tipos de hinos e que ainda tinha que bater continência. Segundo ela não era dado uniforme e que ela só tinha dois vestidos bons para ir a aula, “aí, eu ia dois dias com um vestido só, a mãe dizia, não pode sujar. Aí depois de dois dias, daí chegava, tirava, guardava e vestia. E aí, depois de dois dias eu vestia o outro, era assim” (GILDA, 2018).
Os conteúdos e as práticas na escola iam ao encontro da política planejada pelo órgão indigenista, utilizando-se da pedagogia da nacionalidade e do civismo, como afirma Souza Lima (1995), na perspectiva de transformar o indígena em trabalhador nacional. Durante estas lembranças da época de escola, Dona Gilda descreveu novos detalhes das aulas:
Esses dias eu estava falando, tinha que decorar matéria, tabuada, decorar datas não sei do que lá do descobrimento do Brasil, da revolução.. E dava por tarefa pra gente, chegava na sala de aula aí tinha que falar […], nossa era um sofrimento pra mim, pra nós né. Tinha uns que meu Deus do céu, falava baixinho e ela gritava e batia a régua na mesa ou já dava na cabeça. (GILDA, 2018).
Além da régua na cabeça, Gilda também citou o castigo no milho, no canto da sala. Ela também lembrou dos colegas de sala, que conseguiram terminar o quarto ano junto com ela.
Quem estudava comigo na época que conseguiu terminar foi o Aparecido, foi o Nazareno, Manoel Marcolino. […] De menina, Albertina, conseguiu terminar o quarto ano. João Cardoso não chegou a terminar. Ah tem o Pedro! Pedro de Almeida. De mulher só foi a Albertina. (GILDA, 2018).
Após o final do quarto alguns alunos indígenas do PI Apucarana foram chamados para ir ao PI Guarita, no Rio Grande do Sul, fazer parte do Projeto Centro de Treinamento Profissional Clara Camarão (CTPCC), melhor detalhado mais a frente. Dona Gilda cita que veio um comunicado à escola do Posto, para indicar alguns alunos ao projeto. Segundo ela, o chefe do Posto, Capitão Nivaldo, e sua mulher, a professora Julieta, indicaram estes 4 nomes: Manoel, Aparecido, Albertina e a própria Gilda. Entretanto, os pais não aceitaram a ida dos filhos, ainda muito novos, para um local distante.
Isso foi no final de sessenta e nove né, para setenta. E aí os pais não deixaram, meu pai também não deixou eu ir. Eles que deram a lista né, a FUNAI […] Nenhum, nem meu pai. Meu pai gostava muito do capitão Nivaldo, e meu pai não deixou, falou que eu não ia. (GILDA, 2018).
Isto ocorreu ao final de 1969, quando Gilda tinha 13 anos. Ela disse que seu pai não quis deixar de forma alguma e que ao chegar em casa contou para a mãe que não tinha dado o nome da Gilda, porque ele não tinha deixado ela ir. Ela conta que a mãe reagiu assim: “mas porque que não deu o nome dela?”. O pai justificou que ela era uma menina e “o que ia fazer lá!”
Só sei que discutiram. Aí a minha mãe: ela vai sim! Aí no outro dia cedinho, eu não sei se ela falou para o meu pai se ela ia, ou se ela não falou, não sei. Só sei que ela me chamou cedinho e falou, vamos lá no Posto. Aí eu levantei e fui. Quando a gente chegou ali, os outros já estavam lá né. Não demorou e meu pai chegou atrás, daí capitão Nivaldo falou que era para nós ir, e meu pai falou, não, eles não vão não! Quem que vai então? Daí o pai da Albertina disse que ela podia ir, e a minha mãe disse, ela vai também! (GILDA, 2018).
De um lado o pai da Dona Gilda alegando que esta era uma menina e que mulher não precisava estudar. Do outro a professora e o Chefe do Posto, pedindo para deixar ir, porque ela tinha boas notas. Finalmente a mãe bateu o pé e disse que ela iria sim e que podia escrever o nome dela na ficha. O pai acabou aceitando, mas desde que o irmão da Gilda, o Paulo, fosse também. Embora fosse mais velho, o irmão ainda não tinha terminado o quarto ano.
Daí pegaram o nome do Paulo. Sei que foi eu, Albertina e o Paulo, porque eu era mulher e não podia ir sozinha. Aí não demorou e disseram: tal dia eles vêm buscar vocês. Rapaz, aquilo para mim foi um choque muito grande. Eu nunca tinha saído, só dali para a escola, e da escola para casa né. Sempre com a minha mãe, minha mãe ia para a roça eu ia com ela, ia buscar a nenê, eu ia junto, ia lavar roupa eu tava junto com ela. Sei que chegou o dia de ir, chegou o carro da FUNAI e fomos embora.[…] Ah, aí levaram nós até Curitiba de carro, lá na inspetoria, lá em Curitiba, nós dormimos lá. Eles compraram uma passagem para nós pra ir de ônibus pra lá, nunca tínhamos viajado, nem eu, nem o Paulo né, nem a Albertina. (GILDA, 2018).
Dona Gilda contou emocionada esta parte de sua vida, de sair perto dos pais, sobretudo, de sua mãe. A passagem citada era Curitiba até Passo Fundo, com uma viagem que durou uma noite inteira.
Chegamos em Passo Fundo o que ia fazer? Na rodoviária sem dinheiro, ninguém esperando. Mas o Paulo já tinha 19 anos nessa época, aí o que ia fazer? Não tinha dinheiro, não tinha onde ir. Aí sei que ficamos lá na rodoviária e arrumaram um albergue para nós, o pessoal lá da rodoviária, não sei se era o guarda, sei que fomos dormir lá. No outro dia cedo, veio o chefe do posto, comprou uma passagem para nós ir para Guarita. […] Sem comida! Tinha tomado um café lá no albergue cedo, lá nós ganhamos comida de noite também. (GILDA, 2018).
A partir da presença no Projeto Clara Camarão, a vida de Dona Gilda tomaria novos caminhos, que embora não tivesse sido escolha sua, conduziu-a para a vida de liderança e de militância da causa indígena.
A formação profissional no Instituto Clara Camarão, Posto Indígena Guarita e a atuação de Gilda na FUNAI
Chorando Gilda Kuitá partiu, com o irmão Paulo e a outra Kaingang, Albertina, rumo ao Centro de Treinamento Profissional Clara Camarão (CTPCC), no PI Guarita, na cidade de Tenente Portela (RS). Ela conta que o curso durou 3 anos e que a chegada e os primeiros tempos foram muito difíceis: tempos de aprendizagem e adaptação; tempo de tristeza e muito choro no início e que aos poucos foi se transformando em força para suportar a distância e a saudade da família e da TI Apucarana.
Tudo e quase todos que lá estavam, eram desconhecidos para ela. Saudades de casa, saudades e mágoa da mãe que a obrigou a trilhar este caminho, que mais tarde ela veio entender que foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, pois a mãe queria um futuro para a filha que fosse diferente do dela. Tempos difíceis, vidas sofridas, escassez de recursos, controle excessivo, exploração por parte do órgão indigenista. Enfim, a mãe teve visão de futuro.
O Centro de Treinamento Profissional Clara Camarão foi uma escola de formação bilíngüe para indígenas Guarani e Kaingang dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, que chegou a formar 3 turmas. O Instituto Clara Camarão existiu de 1970 a 1980 e foi dirigido por um grupo de religiosos especialistas, de confissão luterana, formados no Summer Institute of Linguistics (SIL). Em convênio com a FUNAI, estabeleceu-se em várias regiões do Brasil e atuou com várias etnias indígenas, formando monitores bilíngües, grafando as línguas indígenas, traduzindo a biblía para essas línguas, catequisando e convertendo os alunos que para lá se dirigiram. (AMANCIO, 2000; ANTUNES, 2012).
Lá no CTPCC, além da formação na sala de aula, houve o aprendizado e treinamento de novos hábitos e novos costumes que faziam parte da rotina dos alunos da primeira turma. Os dias eram intensos e regrados: tempo de estudar na sala de aula; tempo de aprender tarefas domésticas da vida dos fóg (termo usado na língua Kaingang para se referir aos “brancos” ou não indígenas).
Durante a formação profissional Gilda e os alunos das 3 turmas do CTPCC foram instruídos por meio da pedagogia da nacionalidade e do civismo (SOUZA LIMA, 1995), que correspondia ao projeto de assimilação e incorporação dos indígenas à sociedade nacional. Os homens aprendendo as tarefas relacionadas à agricultura e pecuária. As mulheres aprendendo a conduzir suas casas e suas famílias como as fóg: limpar, cozinhar, costurar, organizar a casa, bordar, cuidar de bebês e de crianças. Também a elas eram ensinados técnicas e procedimentos de primeiros socorros, de atendimento básico à saúde: fazer curativos, aplicar injeções, administrar medicamentos, inferir temperatura e pressão arterial. Conhecimentos esses que Gilda valoriza bastante e que serviu-lhe muito a partir de quando foi morar na TI Ivaí.
No projeto pedagógico do Curso de Formação de Monitor Bilíngue, promovido pelo SIL, estavam os propósitos de dar continuidade ao projeto de assimilação e integração dos indígenas à sociedade nacional, bem como dar continuidade ao processo de catequisação e conversão dos povos indígenas à sua confissão religiosa.
Gilda contou que a mãe não falava sobre a decisão de enviá-la para o Rio Grande do Sul. Depois do primeiro ano lá no CTPCC, retornou de férias para sua família. Terminada as férias apenas ela retornou para o CTPCC e concluiu o curso. Seu irmão e a outra amiga Kaingang (Albertina) desistiram. Nessa etapa já estava adaptada ao lugar e às atividades de treinamento para aprender a ser como os fóg: “desenvolvidos”.
Em 1972 Gilda foi fazer o seu estágio na escola da T.I. Apucaraninha, com Cezarina, colega de turma que conheceu no CTPCC. Em 1973 terminou o curso e foi imediatamente contratada pela FUNAI, junto com mais13 indígenas que se formaram para atuar como monitores bilíngues, sendo 5 mulheres e 9 homens.
Da chegada ao CTPCC, em 1970, até 1973, quando se formou, ela disse ter vivido experiências muito diferentes, difíceis, mas importantes para sua formação como pessoa, como mulher e para sua história. Destacou a importância que tiveram os ensinamentos voltados aos cuidados pessoais e domésticos, com relação à higiene, limpeza, organização da casa; cuidados com a alimentação. Enalteceu os ensinamentos sobre o uso do dinheiro e de como isso foi importante para sua vida futura.
Dona Gilda escolheu trabalhar na Terra Indígena Rio das Cobras, morando e trabalhando lá por 2 anos. Nesse tempo que permaneceu lá o Cacique era João Maria Capanema. Em 1974 pediu as contas da FUNAI, retornou para a TI Apucaraninha e casou-se com um fóg “inteligente, trabalhador. Era caminhoneiro” (Gilda, 2018). Deste casamento nasceram os 4 primeiros filhos: Ivan, Sérgio, Janaína e Jaqueline.
Em 1977 foi convidada pelo SIL para dar aula na escola da TI Ivaí, em Manoel Ribas, onde residiu até 1986. Janaína e Jaqueline nasceram na TI Ivaí. Neste local, além de ser professora, Gilda atuou como auxiliar de enfermagem. Contou um episódio sobre a morte de uma criança indígena. A criança adoeceu, os pais foram até a enfermeira, que era mulher do chefe do posto e esta se recusou a atender a criança, dizendo que atenderia no dia seguinte. A criança não resistu. Faleceu. A comoção tomou conta da comunidade indígena e a comunidade não aceitou mais a presença e prestação de serviços da enfermeira e do marido, que era chefe do posto.
Com a chegada do novo chefe e a convite dele, Gilda, como tinha conhecimentos de técnicas de enfermagem, foi ajudar no Posto de Saúde como auxiliar de enfermagem e atendia muito nos horários que não tinha médico e enfermeira. Falou com orgulho, satisfação e altivez sobre o trabalho que realizou na área da saúde, das pessoas que atendeu, que ajudou a curar, das injeções que aplicou.
Da TI Ivaí mudou-se para La Klãnõ, em Santa Catarina, porque queria viver entre os parentes da parte de seu pai, o velho Diri Kuitá. Por dois anos lá permaneceu, mas não se adaptou à vida entre o Xokleng. Nesse período separou-se e pediu transferência para outra localidade, cuja escolha foi pela TI Mangueirinha.
Chegando em Mangueirinha realizou um curso técnico de enfermagem e atendia nas férias das enfermeiras. Contou que nesse período trabalhou muito, de segunda a segunda, durante quatro anos. Nessa TI conheceu aquele que foi seu segundo marido, pai de suas filhas Nyg, que nasceu em Mangueirinha; e Gój Téj que nasceu na TI Ivaí, pois o Cacique do Ivaí foi até Mangueirinha convidá-la para voltar para a escola de sua Terra Indígena, onde permaneceu residindo até o final do ano 2000. Na TI Ivaí os filhos do primeiro relacionamento se casaram. Ivan foi buscar esposa entre os Xokleng de Santa Catarina; Sérgio casou-se com uma Kaingang da TI Faxinal; Janaina e Jaqueline casaram-se com jovens Kaingang da TI Ivai. Neste local nasceram os primeiros netos.
O cenário político brasileiro mudava. A CF de 1988 trouxe mudanças por demais importantes para toda a sociedade civil brasileira e para os povos indígenas, dentre as quais, o fim do regime tutelar e a importante conquista da cidadania.
Neste novo contexto histórico, a família de Dona Gilda aumentava e a própria Gilda crescia como professora bilíngue Kaingang e se destacava como uma liderança no Paraná.
Depois que se formou no CTPCC, em 1973, ingressou na FUNAI como monitora bilíngue, destacando que a FUNAI não investia em cursos de formação continuada. Fez apenas um curso de reciclagem em 1977. E depois, mais um curso na área da saúde, quando atuou, concomitantemente, como auxiliar de enfermagem.
Gilda afirma que o investimento em formação continuada aconteceu após a promulgação da CF de 1988 e a transferência da educação escolar indígena para o MEC. Só então ela começou a participar de cursos, seminários, congressos, fóruns, simpósios em vários lugares do país.
A coordenadora era a Ivete, do MEC. Nos cursos de capacitação, começou a se falar e fazer o movimento indígena. A gente fazia cursos, ouvia palestras e de noite, depois da janta sentava para conversar sobre o que faltava na educação escolar indígena, nas escolas indígenas; sobre o que era preciso ter nas escolas das aldeias para ensinar nossas crianças. Foi assim que começou o movimento indígena na educação, que eu participei. (GILDA, 2018).
Ao longo dos últimos dezoito anos, os autores desta biografia têm convivido com Gilda Kuitá e com sua família, vendo o crescimento dos filhos, seu acesso às universidades, formando-se profissionais: um advogado, uma enfermeira, uma pedagoga; outros três filhos no caminho: um se formando em Ciências Biológicas, uma no Serviço Social; uma na licenciatura intercultural indígena; e agora em 2018 um neto iniciando o curso de Direito. E a Dona Gilda que ainda não conseguiu terminar o curso de graduação, mas que está buscando seu reingresso no curso de História.
Uma família orientada por princípios de engajamento social e atuação na luta indígena; por uma mulher indígena à frente de seu tempo, que desafia a ordem estabelecida socialmente entre os Kaingang: ela milita na educação e na política interna e externa às aldeias. Ela enfrenta as barreiras, os preconceitos e discriminações por ser mulher, Kaingang, mãe, profissional. Gilda não tem medo. Ela tem fibra; tem coragem; tem altivez e tem força de uma guerreira.
Foto: Crianças da Gilda – Acervo da família
A participação de Gilda no Movimento Indígena e suas ações na Terra Indígena Apucaraninha
No contexto de construção da democracia brasileira, com destaques para a formulação de políticas e programas na área da educação pública, os povos indígenas conquistaram um espaço que antes nunca tivera sido deles: o espaço da construção, da elaboração, da organização dos movimentos e das políticas específicas conforme contido na CF de 1988, dentre as quais, na educação, interessa as reformulações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN), de 1996; e a elaboração do Referencial Curricular Nacional para a Educação Escolar Indígena (RCNEEI), de 1998 e demais documentos construídos com e pela atuação dos povos indígenas.
Foi nessa efervescência política e social que Gilda Kuitá engajou-se nos movimentos indígenas, conquistando seu espaço político e profissional, internamente nas TIs em que morava e, externamente, tanto no âmbito estadual quanto nacional.
A escolha por uma postura profissional e política tem seu preço. A última mudança de TI que Gilda realizou foi motivada por enfrentamentos oriundos de divergências políticas entre os diferentes grupos faccionalistas Kaingang da T.I. Ivaí. Gilda e família foram para a TI Apucaraninha. Isto ocorreu no final do ano de 2000, quando ela já era conhecida nacionalmente como uma mulher indígena engajada na luta e na construção da educação escolar indígena e no trabalho de articulação e organização dos movimentos sociais indígenas no Paraná.
Os autores desta biografia conheceram Dona Gilda na luta, em reunião de discussão sobre políticas e programas para a educação escolar indígena na educação básica, em 1998, e posteriormente, na luta pela educação superior indígena no Paraná. Gilda compunha o staff da SEED PR, no momento em que se discutia a educação escolar indígena básica e também era sempre convidada a compor grupos e comissões envolvendo discussões das políticas para a educação superior e povos indígenas.
O primeiro documento que demandou a criação de um curso de magistério indígena no Paraná foi elaborado e entregue por Gilda para o Secretário de Educação do Estado do Paraná, no ano de 2005. Antes disso, Gilda Kuitá fez parte da Comissão Estadual constituída para regulamentar a Lei 13.134, de 2001, que criou vagas para membros das comunidades indígenas, nas universidades estaduais do Estado do Paraná.
Foi num evento realizado em Camboriú (SC), no ano de 1999, que os professores indígenas atuantes no Paraná conversaram sobre a política de ação afirmativa para indígenas e a proposição de um vestibular específico para os índios. Desse diálogo iniciado lá, elaboraram documento, enviaram ao MEC e ao Governo do Estado. O deputado Cesar Silvestre, junto com o assessor dos povos indígenas no Paraná, ligado à Casa Civil do Estado, elaborou o Projeto de Lei, que foi aprovado em 2001. Desde então a cada ano é realizado um processo seletivo específico para os povos indígenas no Paraná: Vestibular Indígena, que chegará a sua 18ª edição, neste ano de 2018.
Dona Gilda participou do primeiro Vestibular Indígena, no início do ano de 2001, obtendo a aprovação, matriculando-se no curso de Pedagogia, na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Permaneceu no curso por seis meses. Nesse período tirou férias da FUNAI e solicitou uma licença especial, por direito como servidora pública federal e pôde ficar na universidade enquanto aguardava a deliberação da FUNAI sobre o pedido de afastamento remunerado para cursar a graduação. A solicitação foi negada e ela teve que abandonar o curso e retornar para o seu posto de serviço na TI Apucaraninha.
A partir de seu retorno engajou-se no movimento de criação da Associação dos Moradores da TI Apucaraninha e em 2012 fez parte da criação do Grupo de Dança Nen Gá, que nasceu com o objetivo de promover a revitalização da história e da cultura dos Kaingang. O Nen Gá tem atuado na TI Apucaraninha, junto aos jovens e crianças. Os componentes desenvolvem pesquisas, estudos e eventos para manter vivos e atualizados os conhecimentos, a história e os rituais que formam o complexo universo material e simbólico dos Kaingang, como a pesca do Pari e agora estão na organziação do ritual do Kiki-koi, previsto para ser realizado no mês de junho deste ano. Estes são dois rituais tradicionais registrados desde os primeiros contatos dos Fóg com os Kaingang. São rituais que estão na memória dos mais velhos que vão narrando suas experiências e lembranças do passado, quando estes rituais eram realizados com frequência.
Sobre o Grupo de Dança Nen Gá, a filha da Dona Gilda, Nyg Kuitá, que é integrante da Organização de Juventude Indígena Kaingang Nénga (OJIKNénga – PR), apresenta maiores informações no site do grupo:
Eles estão percorrendo vários lugares sagrados do nosso território, chamando as forças da mãe terra e das forças ancestrais para que possam estar guiando eles junto com os parentes do sul ao Acampamento Terra Livre (ATL). Nesse sentido querem compartilhar essa força com a juventude indígena e todos os parentes do Brasil – a energia que eles estão evocando pra luta no ATL2017. (NYG KUITÁ, 2017).
Outros detalhes sobre a Organização da Juventude Indígena Kaingang e sobre o Acampamento Terra Livre de 2017, bem como um vídeo com danças do Grupo Nen Gá, podem ser vistos na seguinte página do Facebook: https://www.facebook.com/rejuind/videos/t.100002829917373/2104688113091325/?type=2&video_source=user_video_tab.
Dona Gilda encerrou sua carreira como professora indígena no ano de 2015, quando se aposentou. Mas não abandonou o caminho que construiu: continua na luta, atuando na sensibilização dos jovens Kaingang para a importância da manutenção e revitalização da cultura de sua etnia, junto ao Grupo Nen Gá.
O nome da professora Gilda Kuitá figura no meio virtual e impresso, em artigos, dissertações, teses, livros e entrevistas.
Gilda Wanklili Kuitá vem protagonizando uma história de resistência, de lutas e de conquistas que não se resumem à área da educação. O engajamento político dela se dá num contexto mais amplo de organização dos movimentos sociais indígenas, pois como ela diz:
Na nossa cultura [dos Kaingang] as coisas não são divididas. Então o movimento também não é. É a luta pela autonomia, pela terra, pelos territórios indígenas, pelo conhecimento. (GILDA, 2018).
Em 21 de novembro de 2011 Gilda Kuitá foi em Brasília receber das mãos da Presidenta Dilma Roussef, um prêmio de reconhecimento pelo seu protagonismo na luta pelas causas indígenas, como das primeiras professoras indígenas alfabetizadoras bilíngues: Medalha da Ordem Nacional do Mérito.
Foto: Gilda Kuitá em Brasília com a Presidenta Dilma Roussef (2011). Fonte: http://www.aen.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=62756&tit=Professora-da-etnia-kaingang-do-Parana-recebe-premio-em-Brasilia .
Dona Gilda é mulher, é mulher indígena, é Kaingang; é mãe; é avó, é bisavó; é liderança; é conselheira; é forte; é uma guerreira!
Referências
AMANCIO, Chateaubriand Nunes. Educação Escolar em Comuniddes Indígenas Kanhgág da Bacia do Tibagi. In: 1º Congresso Brasileiro de Etnomatemática, 2000. Anais do 1º Congresso Brasileiro de Etnomatemática. São Paulo, 2000. P.54-63.
ANTUNES, Claudia Pereira. Experiencias de Formação de Professores Kaingang no Rio Grande do Sul. Programa de Pós Graduação em Educação. Porto Alegre. UFRS. 2012, 122 f.
MONTEIRO, John Manuel. Armas e armadilhas: história e resistência dos índios. In: NOVAES, Adauto. A outra margem do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 237-249.
NOVAK, Éder da Silva. Os Kaingang do Apucarana, o órgão indigenista e a usina hidrelétrica do Apucaraninha. Tese (Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal da Grande Dourados, 2017. 438f.
NOVAK, Éder da Silva. Tekohá e Emã: a luta das populações indígenas por seus territórios e a política indigenista no Paraná da Primeira República – 1889 a 1930. Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Estadual de Maringá, 2006. 208 f.
NOVAK, Éder da Silva; MOTA, Lúcio Tadeu. A política indigenista e os territórios indígenas no Paraná (1900-1950). Revista Fronteiras. Dourados, MS. v. 18, n. 32. p. 76-97. jul./dez. 2016.
OLIVEIRA, João Pacheco de. O nascimento do Brasil e outros ensaios: “pacificação”, regime tutelar e formação de alteridades. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2016.
OLIVEIRA, João Pacheco de (Org.). Indigenismo e territorialização: poderes, rotinas e saberes coloniais no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1998.
SOUZA LIMA, Antonio Carlos de. Um grande cerco de paz: poder tutelar e indianidade no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995.
SOUZA LIMA, Antonio Carlos de. O governo dos índios sob a gestão do SPI. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras: SMC/SP: FAPESP, 1992. p. 155-172.
SPI, 1966. Frequência escolar do Posto Indígena Apucarana em dezembro de 1966. Posto Indígena Apucarana. Filme 69, Fotogramas 85. Museu do Índio, Rio de Janeiro.
SPI, 1967. Frequência escolar do Posto Indígena Apucarana em dezembro de 1967. Posto Indígena Apucarana. Filme 69, Fotogramas 221. Museu do Índio, Rio de Janeiro.
[1] Professor do Departamento de História da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD); Pesquisador do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História da Universidade Estadual de Maringá (LAEE/UEM). Email: edernovak@ufgd.edu.br
[2] Professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá (UEM); Pesquisadora do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História da Universidade Estadual de Maringá (LAEE/UEM). Email: icrodrigues2006@gmail.com
[3] Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá (UEM); Pesquisador do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História da Universidade Estadual de Maringá (LAEE/UEM). Email: ltadeumota@gmail.com
[4] O Território Indígena Apucarana tem importante relação com a história de Dona Gilda e de toda a sua família, como será demonstrado ao longo da biografia. Justamente no território de origem do avô Koindu, vive atualmente Dona Gilda e parte de sua família.
[5] Sobre o Acordo de 1949 ver mais detalhes em Novak e Mota (2016).
[6] Sobre as reservas de terras aos indígenas do Paraná no início do século XX, ver Novak (2006).
[7] Sobre a construção e a presença da UHE Apuracaninha no Território Indígena Apucarana, ver Novak (2017).
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