biografia
Papi Arara
Autor(es): Jandira Keppi
Biografado: Papi Arara
Povo indígena: Arara
Estado: Rondônia
Categorias:Etnias, Arara, Biografia, Estado, Rondônia
Tags:Arara, Masculino, Rondônia
Começo
Cresci no Itapirema e depois fomos para o Urupá. Era tudo de um dono só. Me casei com o Procópio no Urupá. Quando eu era pequena fomos morar nesse seringal, no Urupá; o gerente era o Urira (Pedro Lira). Voltamos de lá porque o homem queria nos matar. Fomos pra Penha. Esse homem era pra frente, enxerido com as mulheres Arara. Pegava mulher casada e solteira. As mulheres que ele pegou já morreram, umas lá no seringal mesmo, de doença. A mãe do Procópio morreu no Itapirema.
Nesse seringal, os homens cortavam caucho. As mulheres trabalhavam na roça plantando feijão, milho. Elas tinham que trabalhar separadas dos homens.
Saímos fugindo de lá. Firmino nos avisou que os homens de lá queriam matar os homens Arara pra ficar com suas mulheres. Fomos para Santa Maria, depois para Penha. Firmino nos chamou pra morar lá, ele era nosso patrão. Depois Firmino morreu.
O Procópio morava com minha mãe Antônia. Aí ela se separou dele e se casou com o Manoelzinho. Aí eu me casei com o Procópio. Tive cinco filhas mulheres e quatro homens. Só um morreu.
A gente tinha muito pajé. Tinha o Agamenon, o pai de Janete, o pai da Luiza. Nosso pajé era o Pedro, antigo marido da Catanheda (Gavião). Hoje ela é a mulher do Joãozinho. Pedro tinha duas mulheres, a Catanheda e a Isabel Arara. Naquele tempo alguns homens se casavam com mais de uma mulher. Às vezes eram irmãs e moravam todos na mesma casa. Não sei por que os homens não têm mais de uma mulher agora. Mas também hoje as mulheres não aceitam mais isso. Acho que elas iam bater nos homens, se eles tivessem mais de uma mulher.
Comer e dançar
Antigamente a gente não bebia macaloba azeda. Nossa macaloba era ralada. Tinha muita batata, banana, milho. Colocava banana na cesta para todos comerem com carne pisada. Ainda não tinha sal, a carne era moqueada. A gente fazia muita macaloba de milho mole ralado. Tinha muita pamonha também. A gente também dançava muito. Passava dois, três dias comendo e dançando. Quando acabava o milho, a gente ia embora. Nesse tempo de festas, os Arara ainda estavam todos juntos. Depois se separaram por grupos. Tinha o grupo do Dutra, do pai do Procópio, do pai do Cícero. Cada grupo foi trabalhar num seringal. Hoje é bom, mas antigamente também era bom.
Invasão
No tempo da invasão de nossas terras, a gente morava na colocação Porto Velho. Por aqui tinha muita invasão. Os lotes eram todos cortados. Nós prendemos 12 homens que estavam invadindo nossas terras. Mandamos eles a pé lá para os Gavião, no Lourdes. Eles tinham que trabalhar para os Gavião, torrando farinha, plantando mandioca e banana. Trabalhavam só pela boia. Mas não foram judiados. Depois Apoena mandou soltá-los. Saíram de lá de avião direto pro lugar deles. Nós não ficamos com medo deles, eles é que ficaram com medo de nós. Depois outros homens invadiram nossas terras entrando lá pelo rumo do Ikolén.
Notas
[1] Narrativa retirada do livro “Nossas vidas: histórias de mulheres Karo Arara. Iba’kât kanã: ma’pâyrap at kanã xet to’”, organizado por Jandira Keppi e Nienke Pruiksma (2018) do Conselho de Missão Entre Povos Indígenas (COMIN).
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