biografia

Dona Ana

Autor(es): Nayara Tayná Leite Silva
Biografado: Ana Olindina da Conceição
Nascimento: 1940
Morte: 2015
Povo indígena: Atikum
Estado: Pernambuco
Categorias:Etnias, Atikum, Biografia, Estado, Pernambuco
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No povo Atikum há muitas mulheres guerreiras, entre elas Dona Ana Olindina da Conceição, nascida
em casa no dia 03 de março de 1940. É filha de Vertuosa Ana do Espírito Santo e de Antônio João da Silva, neta de Ângelo Caboco da Silva e Ana Roberta da Silva. Casou com Heronço Livino Filho com quem teve dez filhos e filhas: Maria Cleonice, Rosineide Ana, Antônio José, Edivânia Ana, Pedro Heronço,
Edivaldo Heronço, Edvan Heronço, Ednalva Ana, José Heronço e Maria de Lurdes.
Dona Ana morou na aldeia sede da Serra Umã desde que nasceu até sua partida deste mundo no ano de 2015. Ela conta que passou por muitas dificuldades para sobrevivência e nos tempos de seca comia com sua família mucunã, macambira, broa do catolezeiro e, para saciar a sede, bebiam da cafofa do umbu e da parreira, esta última uma árvore encontrada na caatinga que se cortava o galho dava mais de 1 litro de água!
Quando moça teve seus filhos e nesta época vivenciou uma seca grande. A roça não dava o alimento, então ela precisou migrar da aldeia para a beira do rio são Francisco a fim de trabalhar no plantio de feijão, milho e macaxeira. Levou consigo os filhos mais velhos para ajudarem na roça e deixou os mais novos com o pai na Serra do Umã.
Na década de 1980 passou a atuar como liderança do povo e desde então começou a acompanhar
as reuniões e os movimentos dentro e fora do povo.
Nesse tempo o cacique Atikum era Elzo Nélio da Silva, e o povo Atikum estava muito atuante no movimento indígena ao lado de Xicão Xukuru e demais lideranças do Nordeste. No ano de 1995 Elzo entregou o cargo então as lideranças se reuniram e escolheram Dona Ana para cacique. As lideranças que a apoiaram nesta época foram: Gelson Livino filho (Senhor Pretinho), José Heronço de Lucena (pajé na época), Francisco Alexandre da Silva (Chico de Raquel), Ivan José dos Santos, Sideval Minervino da Silva, Firmino Domingo, Édson Gabriel da Silva, Jose Severo, Seu Severino, Augusto de Oliveira (atual pajé), Elzo Nélio da Silva (ex cacique na época), entre outros.
Ao assumir o cacicado no povo Atikum Dona Ana tinha 50 anos de idade, tendo sido a primeira
cacique mulher do Brasil que se tem conhecimento nesta época. Ela conta que o cacique Elzo foi atuante
na luta junto com o cacique Xicão Xukuru e conquistou muitos direitos ao nosso povo nas áreas da
Educação, Saúde e pela demarcação do território. E quando ela entrou como cacique deu continuidade a este trabalho e reforçou essa luta junto com as lideranças do povo. A partir de então Dona Ana foi muito envolvida no movimento indígena, participando das reuniões e de várias viagens para Recife e Brasília.
O resultado do seu comprometimento com o povo foi a conquista da homologação da Terra Indígena
Atikum, em 16.290 hectares, no ano de 1996.
Mas para isso acontecer as lideranças passaram por muitos enfrentamentos, pois não tinham nenhuma ajuda financeira e a dificuldade de transporte também era muito grande na época. Eles faziam as
viagens por conta própria e a comunidade também ajudava doando alimentos para a viagem. Neste tempo de Dona Ana a organização dos povos indígenas de Pernambuco era mobilizada através do cacique Xicão Xukuru, ela conta que ele andava por todos os outros povos reunindo as lideranças, fazendo grandes assembleias nas quais tiravam as decisões para fazer os movimentos e reivindicar os direitos dos povos.
Além de sua contribuição como cacique, Dona Ana também foi benzedeira e parteira. Aprendeu a
rezar com a velha Teresa que morava na aldeia Casa de Telha na Serra Umã que ensinou-lhe as nove colunas de reza: quebrante, vento caído, atalhação de fogo, atalhação de sangue, sol na cabeça, dor de cabeça, espinhela caída, dirmitimento de osso e outras.
Aprendeu a ser parteira com a índia Maria da Penha e conta que pegou várias crianças na aldeia e nunca
ocorreu nenhum imprevisto.
Dona Ana é considerada por nós Atikum uma mulher da tradição, pois com ela muita coisa mudou no povo Atikum. Ao lado das demais lideranças do povo conquistamos o acesso as políticas públicas que têm permitido mais qualidade de vida ao povo. Antigamente na saúde era tudo mais difícil, quando adoecia uma pessoa na comunidade tinha que colocar em uma rede e ir a pé por um atalho para a cidade mais próxima e muitos não resistiam e acabavam morrendo no caminho. Na educação não tinha escola na aldeia e os pais não tinham condições de mandar os filhos para a cidade. Quando conseguimos uma escola na aldeia, os professores não eram indígenas e só ensinavam a cultura do branco. E nosso território não estava assegurado pelo Estado brasileiro. Atualmente, parte do nosso território está homologado, na saúde há equipes multidisciplinares com médico, enfermeiro, técnicos
de enfermagem, dentista, auxiliar de dentista, os quais atuam dentro das comunidades fazendo companhamentos dos indígenas, além do agente indígena de saúde ser da própria comunidade. Na educação foram construídas várias escolas nas comunidades indígenas, a educação é especifica e diferenciada, todos/as os/as professores/as são indígenas, além da criação do ensino médio dentro do território.
Dona Ana é uma grande guerreira e homenageá-la neste livro é reconhecer a participação da mulher
Atikum na luta indígena!

 

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