biografia

Dona Helena

Autor(es): Robevânia Roseles da Silva Beserra
Biografado: Helena Maria da Silva
Nascimento: 1930
Povo indígena: Kapinawa
Estado: Pernambuco
Categorias:Biografia, Etnias, Kapinawá, Estado, Pernambuco
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A luta das mulheres indígenas é muito importante para o nosso povo. As mulheres são na maioria das
vezes as responsáveis pelo sustento da família, além de ser destinada a elas a criação dos filhos, a passagem dos valores, muitas vezes elas não são respeitadas e valorizadas, não é reconhecida a sua luta árdua de todos os dias. Dona Helena é um exemplo dessa mulher batalhadora do nosso povo.
Dona Helena Maria da Silva nasceu no dia 18 de fevereiro de 1930, na aldeia Riachinho, Terra
Indígena Kapinawá. Sua mãe Nazarina Maria da Conceição era da aldeia Riachinho e seu pai, Manoel Pereira da Silva, era da aldeia Maçaranduba.
A mãe de Dona Helena teve mais sete filhos, cincomulheres e dois homens todos nascidos na aldeia
Riachinho.
Dona Helena nos conta que sua mãe não tinha condições financeiras para manter os seus filhos, por
isso outras pessoas queriam cria-los, mas era uma mulher guerreira e não permitiu, apesar das poucas
condições criou a todos. Depois que ficaram grandes espalharam-se por aqui e outros foram para a aldeia Nazário na Terra Indígena Kambiwá; nós aqui de Kapinawá temos vários parentes em Kambiwá por conta dessas migrações.
Casou-se em 1952, aos 22 anos de idade, com João Amâncio da Silva. Nessa época foi morar na aldeia Malhador, onde já morava a família de seu companheiro. Ela conta que quando veio morar no Malhador só existiam dois ranchos de palha, um de seu sogro Manoel Amâncio da Silva e o outro do tio do
seu esposo, que tinha o mesmo nome de seu marido.
Na época também havia outra família que morava na região, em uma furna que tem na Serra do Malhador, a família de Seu Raimundo Marcos. O acesso para o Malhador se dava pelas veredas, pequenas trilhas que existiam pela caatinga, a estrada que tem hoje só foi aberta anos depois.
Dona Helena teve cinco filhos, três estão vivos e dois faleceram, ela também tem uma filha de criação. Para criar seus filhos deu muito leite de cabra, quando tinha, mas quando não tinha dava a garapa,
que é a água com açúcar, ou ainda papa de farinha.
Ela menciona que a criação dos filhos antigamente era muito diferente da criação de hoje e havia muitas
dificuldades porque o território não estava livre só para os índios.
Durante toda a vida trabalhara na roça, com a agricultura para a sobrevivência, plantando a mamona, algodão, milho, andu, feijão de corda e mulatinho. Quando era bem cedinho fazia o café (de caco) e a bolacha era farinha. Passaram por muitas dificuldades, principalmente nos períodos de seca, acompanhada do marido buscava caças na caatinga para alimentar os filhos. O acesso à água também
era difícil, tinham que sair do Malhador até o Riachinho, aproximadamente 13 quilômetros de distância, a pé, e voltar com um pote de água na cabeça. Nas sextas-feiras juntava tudo que era de roupa suja para lavar no Riachinho, e levava seus filhos.
Ela frequentava a cidade somente para vender chapéus e com a renda complementava o alimento
para a família. Neste tempo não havia carros para se deslocar até a cidade, e nem estrada principal,
como hoje existe, com a via que leva até a Vila do Catimbau. O deslocamento era pelas veredas da caatinga e passava no Brejinho, na Palmeira, na Ingazeira, para poder chegar perto da entrada que vai
para o Catimbau.
Ainda falando sobre os tempos antigos, Dona Helena trouxe à memória a importância do conhecimento sobre as plantas medicinais que aprendeu com os mais velhos, “a medicina tradicional é melhor do que os remédios que os médicos passam” ela me disse. Segundo Dona Helena, antes não havia médico e nem remédio de farmácia, a medicação era feita pelas pessoas mais velhas, utilizando plantas e raízes conhecidas com as quais faziam chás, lambedores e outros. Ela diz que o bom disso era que utilizavam as plantas que colhiam na caatinga e no terreiro mesmo, plantas que já conheciam.
Entre todos os assuntos, Dona Helena destacou que um dos maiores desafios do nosso povo, hoje,
é completar a demarcação de parte do nosso território, pois ainda há uma área que não está regularizada. Nossa luta atual é contra o Parque Nacional do Catimbau, uma Unidade de Conservação que foi criada sem que o nosso povo fosse consultado e se sobrepondo a várias aldeias do nosso território.
Neste tipo de Unidade de Conservação é proibida a moradia de pessoas, dessa forma sempre somos
ameaçados pelos órgãos do governo federal de ter que sair do nosso território, do local em que construímos nossas vidas desde o tempo dos mais velhos. Dona Helena contou que ela chegou a participar de uma reunião no tempo da criação do Parque Nacional, relata que foi chamada pelo pessoal do Ibama e nessa reunião o governo queria que ela assinasse um documento, para sair da sua aldeia,
porém ela disse que não concordava e não assinava nada, pois não ia sair de sua comunidade.
As melhores lembranças de Dona Helena estão relacionadas aos cantos e danças de nosso povo. Quando era criança sempre brincou de samba de coco com os seus primos, primas, irmãos e irmãs, com quem aprendeu a cantar e dançar. Ela conheceu o Toré em suas idas para Kambiwá com a sua irmã, e depois o Toré começou a ser praticado aqui em Kapinawá também. Nesse movimento juntamos o samba de coco e o Toré e criamos o Samba de Toré. Dona Helena dança e canta tanto o Toré quanto o samba de coco.

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