biografia

Japuguaçu

Autor(es): Geraldo Gustavo de Almeida
Biografado: Japuguaçu
Povo indígena: Tamoio
Estado: Rio de Janeiro
Categorias:Biografia, Estado, Rio de Janeiro, Etnias, Tamoios
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Chefe tamoio. Foi vilmente traído pelo governador Antônio de Salema, numa ignominiosa cilada que culminou com massacre de mais de dois mil índios e a prisão de milhares. A chacina ocorreu nas imediações da atual cidade de Cabo Frio a 26 de setembro de 1575. Vejamos, sobre o assunto, esta narração: “Chegando ao Rio de Janeiro, Salema encontrou os tamoios enobrecidos e ousados, a ponto de atacarem os portugueses na própria baía de Guanabara. Resolveu, pois, dar remédio à situação desesperada, e combate-los em Cabo Frio, onde era maior a sua influência, e continuavam as relações com os franceses. Reuniu a gente do Rio de Janeiro e convidou alguma do Espírito Santo. De São Vicente veio o capitão Jerônimo Leitão com muitos portugueses e índios cristãos. As forças reunidas, segundo dois contemporâneos, constavam de 400 portugueses e 700 índios. Entre os primeiros achavam-se Cristóvão de Barros, que depois interinamente governando o Brasil, lhe prestou tantos serviços; Antônio de Mariz, que tanto destinguiu na campanha, e que conhecem todos que leram Guarani de José de Alencar. Com essa gente partiu Salema, no dia 27 de agosto de 1575, para Cabo Frio. Em breve chegaram a uma aldeia onde os tamoios se tinham fortificado, em campo cercado de triple fosse, e de trincheiras feitas com tal arte que pareciam inexpugnáveis. Estavam entre eles franceses e um inglês, homens engenhosos e de grande experiência na disciplina militar, os quais haviam dirigido as obras de defesa. “De dia escreve o padre de Luís Fonseca, eram-lhes mandados mais de mil archeiros dos mais valentes que era possível achar, sem levar em outra os outros soldados distintos. “Começaram em breve ataques e sortidas, que não tiveram, outro resultado além de mortes de parte a parte. Então Salema resolveu não dar mais rebates, mas apertar o cerco, impedir a entrada de víveres e vencê-los pela fome. O seu plano provou bem: não tardou que faltasse água aos sitiados, que no seu desespero começaram a falar em render-se. Demoveu-se desse passo um feiticeiro muito respeitado entre eles, que lhes prometeu água em abundância. E de fato, escreve ainda que o padre Luiz da Fonseca, atirando ao ar ossos de porco, e usando não sei que outras superstições diabólicas e esconjuros mágicos, sucedeu (ou porque era lua cheia ou porque Deus assim o permitiu) que começou a chover muito. Os tamoios apanharam a água e dispuseram-se à resistência por muito tempo; mas a água corrompeu0se, e a sua situação ficou tão crítica como antes. Assim, tomaram uma resolução heroica: fazer uma sortida em massa, forçar os sitiantes a retiraram-se com o favor da noite. Reinou então no acampamento inimigo um silêncio que inquietou Salema. Veio-lhe logo a ideia que se tramava qualquer cilada, e para preveni-la, tratou de aprisionar alguns dos inimigos para informar-se. Nada conseguiu. Um jesuíta, o padre Baltasar Alves Vieira, com outro membro da Companhia, viera acompanhando Salema. Tinha prestado os melhores serviços, celebrando a missa todos os dias, cantando ladainha, confessando, dando comunhão, levantando cruzes pelo caminho, animando de todos os modos os selvagens. O seu oferecimento foi aceito; e no dia de São Mateus, 21 de Setembro, encaminhou-se para o campo inimigo, tento antes obtido que não se faria mal a quem viesse lhe falar. Chegando à trincheira, Baltasar Alvares gritou, em língua brasílica, aos sitiados que um padre da Companhia de Jesus queria falar com o capitão. Este, que se chamava Japuguaçu, apareceu e convencionou com o padre ir ao outro dia conferenciar com Salema. De fato, veio, vestido com toda a pompa, e tendo uma presença venerável, diz um contemporâneo, e teve uma entrevista com Salema. Este antes de tudo, exigiu que lhe fossem entregues os dois franceses e o inglês, e sendo satisfeito, condenou-os à forca. Exigiu ainda Salema que fosse demolida a parte da fortaleza tamoia. Japaguaçu fê-lo imediatamente, plantando uma cruz para que os portugueses, uma cruz para que os portugueses, entrando, não fizessem mal a ninguém. Por sua vez Japaguaçu pediu ao governador que lhe fosse permitido aí habitar com todos os seus, prometendo ser sempre vassalo dos portugueses. Salema não acedeu; primeiro exigiu que lhe fossem entregues todos os que tinham vindo socorrê-lo, e destes, entre os quais haviam 500 bravos besteiros, uns foram mortos, outros feito escravos dos fidalgos. Isto sucedeu a 26 de setembro de 1575. “Logo souberam a sorte que os aguardava, os habitantes de Cabo Frio abandonaram suas aldeias e fugiram para o interior; mas Salema, acossando-os, matou mais de 2 mil e fez 4 mil prisioneiros. “A mãe era separada do filho, o marido da mulher. Um era levado para São Paulo e outro para o Espírito Santo. Não havia coração de bronze que não se enternecesse, ouvindo as queixas e lamentos deste pobre povo!”.