biografia

Maria Leusa Munduruku

Autor(es): Maria Leusa Munduruku
Biografado: Maria Leusa Munduruku
Nascimento: 1988
Povo indígena: Munduruku
Terra indígena: Terra Indígena Munduruku
Estado: Mato Grosso
Categorias:Biografia, Estado, Mato Grosso, Etnias, Munduruku
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De uma mulher Munduruku surgiu as plantas na roça para alimentar a vida dos seus netos. Mulher Munduruku Wakoborũn fez a justiça pela morte do seu irmão artesão Wakorempu. Mulher Munduruku virou peixe por perder o seu marido. Mulher atual é a mulher Munduruku que luta pela vida.[1]

 

Sou Maria Leusa Munduruku[2], tenho 33 anos de idade, nasci na aldeia Missão Cururu, no alto rio Tapajós, na Terra Indígena Munduruku. Sou mãe de cinco filhos e um neto e sou casada. Sou guerreira e defensora do território e da vida do nosso povo Munduruku.

Eu, como mulher, tenho que cuidar dos filhos, do neto, tenho que cuidar da casa, da roça e ir para luta, defender o nosso território contra invasores: são garimpeiros, são madeireiros e muitos outros. Também estou à frente de organizações do nosso povo, em encontros, assembleias, oficinas das mulheres.

Mesmo com dificuldades frente aos gananciosos, permaneço na luta, pois tenho muito respeito pelas mulheres, caciques e crianças. Os caciques dependem das nossas vozes, eles têm confiança em mim, porque sabem qual é a minha posição, que sempre foi ficar na defesa da vida do meu povo.

Porém não foi fácil passar todos esses anos para chegar até aqui e me tornar uma liderança feminina. Passei por várias dificuldades, entre elas foi o preconceito por eu ser mulher e estar na luta ao mesmo tempo. Diziam que as mulheres não tinham esse papel de estar na luta e as que estavam na luta, só estavam para acompanhar os homens, como se quiséssemos nos aproveitar das situações de luta para estar com os homens. Além disso, vivo ameaças à minha vida e à vida da minha família por aqueles que são a favor da destruição.

Nesse texto, eu vou falar para vocês um pouco sobre a minha trajetória de vida para me tornar uma liderança e sobre esse contexto de ameaças provocado pelo atual governo. Estou usando a língua portuguesa como segunda língua, minha primeira língua é munduruku. Essa linguagem escrita também não é um costume para mim, pois nos comunicamos principalmente pelas conversas faladas. Mas acho importante compartilhar minha experiência de luta, pois acredito que tenho que repassar essa experiência que ganhei, que consegui construir dentro da minha trajetória de vida até agora, e que quero seguir construindo.

Como movimento, achamos importante esses espaços de compartilhamento de experiências com outros povos, inclusive com os povos que não são daqui do Brasil. Construir e manter essas alianças é um ato muito importante para seguirmos na luta. As lutas não são diferentes, apenas diferencia o país, mas nossa luta é a mesma. Nossa dor é a mesma, nosso sangue derramado é o mesmo sangue.

Desde criança aprendi a cuidar dos irmãos, cuidar da roça, conviver e aprender com meu povo, respeitar os mais velhos, sábios, ouvindo-os. Aprendi a cantar os cânticos tradicionais do meu povo, aprendi a pintura corporal e ir para a luta. Crescer com os meus professores sábios, ouvindo os mais velhos, homens e mulheres, foi uma das minhas escolas.

Fui me tornando liderança feminina do meu povo dentro do curso do ensino médio integrado chamado Ibaorebu. Foi aí, ouvindo mulheres, homens, lideranças e pajés dentro da sala de aula que fui escolhida para ser presidente da turma do magistério e depois fui membro da comissão do Ibaorebu. Éramos os organizadores que produziam tudo anteriormente, informávamos nas aldeias e pedíamos contribuições das famílias para levar os estudantes para o local das aulas, na aldeia Sai Cinza, Terra Indígena Sai Cinza. Eram 210 alunos e alunas Munduruku, de 140 aldeias, do alto e médio Tapajós, e que estudaram em três áreas (técnico de enfermagem, técnico de magistério e técnico de agroecologia), durante oito anos. Tínhamos um custo muito alto, mas unidos conseguíamos realizar o nosso curso em duas etapas ao ano. Os nossos professores foram os sábios, os mais velhos, os pajés, artesãos, puxadores e professores pariwat[3] que apoiam nosso povo. A cada final de etapa do Ibaorebu saíamos com atividades de pesquisa nas aldeias. Ibaorebu foi um grande sábio e guerreiro, e por isso esse título para o curso de ensino médio integrado, feito em conjunto com a Funai. Nesse espaço, aprendemos a revitalizar e praticar a nossa luta do povo Munduruku.

Esse foi um momento certo para a continuidade da minha formação de liderança feminina, quando aprendi a seguir na luta pela defesa da vida e do meu povo, justo quando ele estava sob ataque do governo com grandes empreendimentos, como a pretensão de construção de hidrelétricas nos rios Tapajós e Teles Pires. Conseguiram construir algumas hidrelétricas, como a UHE Teles Pires e UHE São Manoel.  Assassinaram os nossos lugares sagrados, Karobixexe e Dekoka`a, onde os espíritos dos nossos antepassados estão. Porém, conseguimos muitas vitórias com a resistência do movimento desde o ano de 2012. Vitória muito importante foi o resgate das Itiğ’a (urnas funerárias) onde estão os espíritos dos nossos antepassados e que haviam sido retiradas dos seus lugares pela empresa construtora dessas hidrelétricas. Nesse processo a gente entendeu mesmo que o governo nunca vai respeitar e nenhuma empresa vai cumprir qualquer acordo. Eles vão nos matar e já vem nos matando, de várias formas.

No movimento que formamos nos comprometemos continuar a luta dos nossos antepassados na proteção do nosso território, rios, lugares sagrados. Manifestamos nas mídias, fizemos cartas de denúncias, dizendo que o governo está nos matando, assassinando nosso sagrado. Sempre respeitamos nossos lugares e gritamos para o mundo que os pariwat são mal. Nós, Munduruku, já mandamos recado que somos contra toda essa destruição e morte trazida por todos esses empreendimentos do governo, como: mineração, exploração de madeira, hidroelétrica, hidrovia, ferrovia. Vamos continuar em luta na defesa da vida e do nosso povo Munduruku.

No nosso Movimento Munduruku Ipereğ Ayũ mostramos para o governo que o povo Munduruku tem um modelo próprio de governar. O modelo de desenvolvimento próprio, como território livre sem destruição, tendo rio e floresta para pescar, caçar, coletar frutas, etc. Nossa organização é, e sempre foi, diferente da dos pariwat. Nossas decisões são coletivas, nas reuniões, encontros, trabalhos das roças, compartilhamos o alimento que temos. Além disso, para defender nosso território, nós também não esperamos pelo governo, fizemos a nossa autodemarcação[4], como também construímos o protocolo de consulta do povo Munduruku, dizendo como vamos responder à Convenção 169 da OIT. Formamos também as mulheres para estarem na luta sempre usando nossas estratégias, com a sabedoria dos pajés e sábios e algumas delas já assumiram o papel de cacicas das suas aldeias.

Grupo de guerreiras Wakoborũn

Ainda no Ibaorebu ouvimos muito sobre a nossa resistência, que nós Munduruku somos de luta, que nunca perdemos a luta. Conheci a história da grande guerreira mulher Wakoborũn e assim me tornei corajosa para participar na luta. Aprendi que nós mulheres também somos capazes de lutar e ocupar os espaços junto com os homens. Percebi que os homens não conseguem vencer sozinhos, precisam das mulheres.

O governo atual continua violando os nossos direitos, agora já é morte não é mais ameaça e muitos homens também foram corrompidos. Muitos membros do Movimento Munduruku Ipereğ Ayũ começaram a sair. A gente já sabia que todos os homens que estavam no movimento podiam ser dominados. Que eles podiam cair no mundo da ganância, sabíamos que eles iriam para aquele caminho. Éramos nós que tínhamos que tomar a frente. Perdemos muitos homens, porque eles acreditaram que não iam conseguir barrar o desenvolvimento de destruição e morte promovido pelo governo e se uniram aos pariwat. Eles têm sua visão fraca, as mulheres não, as mulheres decidem as coisas pensando no bem viver dos seus filhos e do território. Outros homens ainda acreditam que o governo pode defender e lutar pelos povos indígenas, principalmente contra a invasão do território, madeireiro, garimpeiro, grilagem. Isso é um engano, só nossa luta organizada é que pode fazer resistência.

Então, como mulheres, começamos a nos organizar já no início do movimento Ipereğ Ayũ. Eram cinco grupos de guerreiros: Pusuru Kao, Pukarao Pik Pik, Waremucu Pak Pak, Surup Surup e Wakoborũn. E dentro desses grupos, nosso grupo específico de guerreiras, Wakoborũn. Essa é uma história desde o início do nosso povo. E realmente a gente foi reconhecida nesse movimento em defesa da vida e do território, a nossa luta, o nosso trabalho. A gente começou a se organizar mais depois que eu entrei na coordenação do movimento Munduruku Ipereğ Ayũ. As dificuldades são diárias para garantir a sobrevivência, mas a gente entrou mesmo na frente da luta. Não deixamos de lutar pelo território e a vida dos filhos. As mulheres já estavam preparadas para enfrentar os homens, corrompidos pelo governo.

As mulheres começaram, então, a fazer encontros e reuniões. A gente começou a se organizar. Começamos a fazer um encontro pequeno das mulheres. Nesses encontros, a gente construía a conjuntura política e falávamos como as mulheres podiam se organizar. Então, eu nunca estive sozinha, sempre estive com outras guerreiras e guerreiros pensando coletivamente qual decisão tomar. E por isso a importância de nos organizar, porque a gente queria ter a liberdade. Aí, a gente começou a lembrar da história da Wakoborũn, que foi a primeira mulher guerreira.

Depois que nos organizamos como mulheres, vimos que ainda tínhamos dificuldades de ir para frente, por não ter apoio externo, não ter embarcação para chegar nas aldeias, para ir aonde as mulheres estavam, para informar todas as mulheres.

Por isso, foi decidido junto com o Movimento Ipereğ Ayũ a construção de associações para colaborar com o movimento, para conseguir realizar as atividades. Foram construídas algumas associações e as mulheres do alto Tapajós criaram a Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn em fevereiro de 2018. Essa associação vem realizando muitos trabalhos, tanto no âmbito da formação política como formação técnica em geração de renda, como de possibilidades de colaboração coletiva, como na luta pela autoridade dos pajés e dos mais velhos. Durante a pandemia fizemos muitas ações de combate à disseminação do vírus e de difusão de informação. A associação está colaborando com a luta e com as outras associações, pela defesa do território, em busca do fortalecimento da produção e de incentivos ao povo. Para fazermos cada dia mais por nós mesmas, sem depender do pariwat. Somos atacadas ainda pelos homens que não enxergam, mas continuamos firmes em nossa luta pela vida de todos. Continuaremos a lutar por nosso modelo de vida, sem doenças e mortes. Esse é o caminho.

As ameaças no atual contexto de governo

Sofro muito com os ataques que recebemos. Além de defender a luta, tenho meus filhos para cuidar. Muitas vezes a gente deixa de cuidar dos filhos por estar nessa luta, o marido tem que cuidar dos filhos em casa. Eu sei que o povo depende agora de mim e eu não posso negar a minha experiência de luta que vai servir para o nosso futuro, para os nossos netos, nossos filhos. Quando eu abri meus olhos, nosso povo estava numa armadilha muito grande. O governo é daydo[5], como já dissemos.

O governo daydo são todos, aliás a gente não vê grandes diferenças entre os governos. Sabemos que está tudo pior, a destruição no mundo todo. Depois desse governo Bolsonaro que entrou aqui no Brasil, a primeira fala foi a de que não iria demarcar um centímetro do território para os indígenas. O presidente anterior nunca falou isso, ainda se demarcava território, com muita luta, muita morte, como acontece desde os colonizadores, mas tinha algum diálogo. Esse governo fala que não vai demarcar. Já conhecemos esses governos e já esperávamos ouvir esse tipo de fala. No governo anterior já tínhamos feito nossa autodemarcação, construída por nós, para delimitar o território do nosso povo no médio Tapajós e colaboramos com a autodemarcação da comunidade beiradeira[6] de Montanha e Mangabal, entre o médio e o alto Tapajós. Parece que já sabíamos o que iria vir. Sabemos que os governos estão piorando com a ganância dos homens.

Pelo governo a gente não tem esperança. Não dá para esperar, porque todo governo tem interesse de captar recurso, de trocar nosso território, de dividir, entregar para os empresários. Sempre tivemos essa consciência, porque o governo nunca vai nos defender. Por isso dizemos que nenhum deles foi bom com o povo Munduruku. Porque o território que conseguimos foi somente pela luta e pela resistência. Nossos antepassados tiveram muita luta, precisaram de muita força para conseguir, nenhum território foi demarcado, homologado de graça, à toa, foi uma luta nossa.

E é assim mesmo que a gente tem que continuar. Só que agora esse governo Bolsonaro está nos atacando mais forte, por ter seus aliados fora do país também. Por isso essa força, por isso ele diz que ele quer minerar o território dos povos indígenas, favorecer os indígenas que foram corrompidos pelos pariwat.

O ministro do meio ambiente do governo Bolsonaro, Ricardo Salles, outro homem, foi em nosso território. A gente já esteve na porta do ministério e não fomos atendidos, agora ele vem aqui para atender uma minoria que é favorável ao garimpo, poucos homens corrompidos do povo. Salles para nós não é nem um ministro, é um bandido, um invasor, está invadindo nosso território e deu força para os outros invasores. Essa visita foi uma tentativa de intimidar e amedrontar, querendo impor a sua violência no município de Jacareacanga. Ele veio encontrar com seus aliados, que estão nos matando, destruindo nosso rio, matando peixe, derrubando as árvores, acabando com o que nos dá vida.

Só lamentamos por aqueles parentes que caíram na armadilha dos pariwat. O governo se enganou também pensando que está fazendo aliança com lideranças indígenas. Não os considero lideranças do povo, as lideranças do povo Munduruku são aqueles que lutam pela defesa da vida do povo, não aqueles que só pensam em destruir, que defendem desenvolvimento de morte, como garimpo, mineração, ferrovia e hidrelétrica. Porque a liderança é quem defende seu povo, seu território, que tem amor pelo seu povo. Dizendo que é liderança, mas que destrói, que não tem união, que é individualista, só pensa nele, isso não é uma liderança.

Essa ação do governo intensificou as ameaças às lideranças que são defensoras do povo e da nossa terra. Nesse contexto, ameaçada de morte, eu mesma tive que sair do território. Muita insegurança. Não me sinto segura também onde estou, por não conhecer meus vizinhos e as pessoas dos comércios onde compramos alimentação. Estamos mais dependentes do pariwat, do equipamento de segurança, não podemos sair na rua, só quando for necessidade. Me sinto muito isolada e amedrontada, pensado que toda hora os bandidos podem nos matar e ainda têm que ficar presa dentro da casa.

Estou me sentindo muito brava longe da minha família, da minha roça, do meu pescado, das minhas criações de porcos e galinhas. Fico sem andar no caminho da minha roça, vendo cafezal e ingá e estou longe das mulheres. Sinto muita falta das visitas dos caciques e das mulheres no final do mês. Sinto saudade da farinha, do peixe e da caça. Mas com toda essa distância aprendo, sinto e penso como posso seguir e continuar minha luta pela defesa dessas pessoas que são o amor, minha família e mulheres do meu território.

Eu continuo sendo essa pessoa, não vou mudar, sempre vou ser essa pessoa, a minha voz vai ser sempre essa. Pois sou mãe, sou defensora. Só uma coisa que muda, porque eu tive que deixar meu território por defendê-lo contra essas invasões. Só mudei minha moradia por uns tempos. É difícil, mas eu tenho que enfrentar, a gente já enfrentou momentos piores.

Tento ficar tranquila porque tem outras mulheres que já pegaram essa prática, essas experiências que eu tenho, elas já me acompanharam nessa luta. Elas vão contribuir e vão compartilhar também essa resistência. São as mulheres Munduruku, as mulheres que estão na frente da luta. Aqui no Brasil e fora do Brasil também tem essas mulheres que defendem, as mulheres que têm coragem de falar em nome dos povos que estão sendo mortos, que estão sendo retirados do seu território, é nisso que acredito.

Eu escrevo aqui a minha luta, a luta das mulheres e a luta do meu povo. Que chegue essa mensagem de dor, um grito e lágrimas de choro e de esperança para outras mulheres que estão em luta pelo território e pela vida, mostrando a capacidade e autonomia das mulheres. O mundo não existe sem nós, por isso nós somos mãe terra. Governos pariwat desses países precisam entender que o homem nasce de uma mulher. Somos luzes como o sol. Na terra sem sol não há humanidade e será escuridão.

 

 Mapa 1. Elaboração Juan Doblas, novembro de 2020.

 

Linha do tempo de vida e de luta

Esta linha do tempo abaixo é parte da minha trajetória de vida que apresento com ajuda de algumas imagens e que coincide também com parte do longo caminho de luta e de resistência do povo Munduruku. Essa foi a nossa luta, nossa força, nossa autonomia, o caminho do povo. Me orgulho dessa caminhada. Conseguimos ensinar nossos filhos, guerreiros, guerreiras o caminho sem ganância, sem morte e é assim que vamos garantir a vida do nosso povo. Ter a nossa autonomia de viver no nosso território. Nessa trajetória tivemos muitas vitórias e conquistas.

Desde o início da minha caminhada venho participando de reuniões, ações e movimentos. Fui professora da minha aldeia Bananal Rio das Tropas, conselheira local de saúde indígena da aldeia, presidente de turma do Ibaorebu, assim como membro da comissão do projeto Ibaorebu. Ainda em 2018, pude ter uma experiência como secretária de assuntos indígenas do município de Jacareacanga. Abaixo mostramos um pouco do nosso movimento, da nossa resistência e que não vamos parar por aqui, vamos sempre firmes seguir esta luta.

 

Fotos 1 e 2. Ação pedindo justiça pela morte do Lelo Akay, junho de 2012. Ato de fundação do Movimento Munduruku Ipereğ Ayũ. Logo em seguida, conseguimos participar de audiência com o governador e secretário de segurança em Belém. Fotos: Arquivo do Movimento Ipereğ Ayũ.

 

Foto 3. Assembleia extraordinária que realizamos em abril de 2013 na aldeia Sai-Cinza, na Terra Indígena Sai Cinza, por conta do assassinato do Adenilson Kirixi pelo delegado da polícia federal. Nesta Assembleia foi a minha indicação para assumir como vice coordenadora da Associação Pusuru. Foto: Lunaé Parracho.

Fotos 4, 5e 6. Ocupação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte em maio e junho de 2013, nossa pauta era única, desmilitarização do território, paralisação das obras no rio Teles Pires e dos estudos no rio Tapajós e exigência da consulta prévia e informada de acordo a 169 da OIT. Fotos: Arquivo Movimento Ipereğ Ayũ.

 

Fotos 7, 8 e 9. De Belo Monte, seguimos para Brasília em julho de 2013 com 200 Munduruku para exigirmos nossa pauta. O que ouvimos do governo foi que os projetos iriam continuar, e que a nossa consulta não vale o direito de veto – ou seja, não poderíamos dizer não. Fotos: Rosamaria Loures, Ruy Sposati e Lunaé Parracho.

Fotos 10 e 11. De volta ao nosso território, precisamos de nós mesmos nos defender. Retiramos 25 pesquisadores que realizavam pesquisas de impacto ambiental para implantação das barragens de São Luiz do Tapajós e Jatobá, ambas no rio Tapajós, sem a nossa autorização. Fotos: Eduarda Gama e Rosamaria Loures.

 

Foto 12. Começamos a organizar as Assembleias do Movimento Munduruku Ipereğ Ayũ. A primeira foi na Boca do Rio das Tropas, a segunda na aldeia Restinga (2013). Logo em seguida tivemos que realizar uma ação contra a demissão de 70 professores do município de Jacareacanga. Foto: Rosamaria Loures.

Foto 13. III Assembleia do Movimento Munduruku Ipereğ Ayũ na aldeia Missão do Rio Cururu (2014), Terra Indígena Munduruku. Foto: Rosamaria Loures.

Foto 14. Fiscalização do território para retirada dos garimpeiros pariwat realizada em janeiro de 2014. Foto: Lunaé Parracho.

 

Fotos 15 e 16. Por não termos ainda todas as nossas terras demarcadas, e cansados de esperar pelo governo do Brasil, iniciamos em outubro de 2014 as nossas autodemarcações no Território Daje Kapap Eipi (Terra Indígena Sawre Muybu) no médio Tapajós. Além de abrir picadas, novas aldeias e aprender sobre a nossa história, montamos grupos de vigilância que monitoram os invasores. Em seguida, criamos o nosso protocolo próprio de consulta, para o governo saber as regras para conversar com o nosso povo e como tomamos nossas decisões. Fotos: Ailen Vega e Sandy Akay Munduruku.

 

Fotos 17, 18, 19, 20 e 21. Começamos os nossos encontros das mulheres com oficinas sobre direitos, e depois com encontros anuais que aconteceram nas aldeias Bananal Rio das Tropas, Muiuciuzão e Santa Cruz. Depois, conseguimos construir a nossa I Assembleia das Mulheres do Alto e Médio Tapajós que aconteceu na aldeia Nova Trairão e também contou com a participação de uma comitiva de mulheres do baixo Tapajós e com duas lideranças do povo Guarani-Kaiowá. Fotos: Rosamaria Loures.

Foto 22. Em fevereiro de 2018, criamos a Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn para apoiar as mulheres e o nosso movimento de resistência. Foto: Rosamaria Loures.

 

Fotos 23 e 24. Participamos também em 2017 e 2018 da autodemarcação de uma comunidade tradicional, parte do Projeto de Assentamento Agroextrativista de Montanha e Mangabal, no médio Tapajós. Temos a nossa aliança política com os beiradeiros e eles participam da nossa autodemarcação e tem seu protocolo próprio de consulta. Fotos: Rosamaria Loures.

Fotos 25 e26. Como parte da nossa formação, no final de 2017 conseguimos fazer um intercâmbio no México e conhecer diversas organizações e movimentos de luta. Fotos: Rosamaria Loures.

Foto 27. Fomos obrigados a ocupar a Usina Hidrelétrica de São Manoel por duas vezes em 2017 para lutarmos contra a destruição dos nossos locais sagrados e exigirmos a demarcação das nossas terras. Foto: Alessandra Korap.

 

Fotos 28 e 29. Em dezembro de 2019, cansados de aguardar pela empresa e pelo governo, resgatamos as nossas urnas funerárias (Itiğ’a) do Museu de História Natural de Alta Floresta – MT. Elas foram retiradas dos nossos locais sagrados, no contexto dos estudos para construir as usinas hidrelétricas no rio Teles Pires. Fotos: Rosamaria Loures.

 

Notas

[1] História oral do povo Munduruku.

[2] Coordenadora da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn. Agradecimentos: a todas as mulheres Wakoborũn, a assessoria técnica da Associação: Luah Sampaio, Rosamaria Loures e o  Coletivo Nodo Solidário.

[3] Para nós, pariwat é homem branco mal, foi assim que aprendemos desde o contato com os brancos. Continuamos usando esse termo para todos os não indígenas.

[4]  A demarcação é uma etapa do processo administrativo de demarcação das terras Indígenas. Pela morosidade do governo, o povo Munduruku iniciou em 2014 um processo de autodemarcação.

[5]  Nesse contexto nos referimos ao termo daydo como traidor.

[6]  Comunidade beiradeira é como se autodenominam diversas comunidades amazônicas que se localizam nas margens dos rios, nessa caso, o rio Tapajós.

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