biografia
Francisco Barroso Laranhaga
Autor(es): Aldir Chota dos Santos
Biografado: FRANCISCO BARROSO LARANHAGA KAIXANA
Nascimento: 1930
Povo indígena: Kaixana
Estado: Amazonas
Categorias:Biografia, Kaixana
Tags:Amazonas, Kaixana, Masculino
Aldir Chota dos Santos[1]
O senhor Francisco Barroso Laranhaga nasceu no ano de 1930, na comunidade chamada Caruara, no município de Santo Antonio do Iça. Na época o município era chamado de Bela Vista, o pai do senhor Francisco Barroso Laranhaga era índio Kaixana, sua mãe era índia Ticuna, a sua trajetória foi muito sofrida. O seu pai era um pescador, agricultor e seringueiro. Tinha quatro estradas para trabalhar, a sua mãe ajudava a fazer as comidas e cuidava das crianças enquanto seu pai trabalhava tirando o leite da seringa. Eles eram nove irmãos, mas morreram quatro por varíola e sarampo. Conseguiram sobreviver apenas cinco pessoas entre homens e mulheres.
Na época da segunda guerra mundial toda a família fugiu para a cabeceira do Rio Jacurapá para escaparem da morte. Neste lugar ele cresceu, aprender a pescar, caçar e tirar o leite da seringueira. Todos os dias acordava as quatro horas da manhã para fazer o café e fritar a carne. Para ir ao trabalho, levava consigo as tigelas, a cumbuca e a faca de cortar a seringueira, e a espingarda para se defender da onça. Na parte da tarde o leite da seringa era colhido, chegando na barraca, era defumado e transformado em borracha para depois ser vendido aos seus patrões em troca de mercadorias. Isso durou mais de trinta anos, quando ele já estava jovem o seu pai resolveu voltar para a comunidade de onde ele havia nascido para aprenderem a ler e a escrever.
Ao voltarem, ele conseguiu a sua esposa Dona Himbelina e casou e até hoje vivem juntos. Os seus avós moravam na comunidade chamada Bela Vista, hoje houve a mudança do nome da comunidade e ela é reconhecida como Vila Presidente Vargas, esse nome foi porque na década de 1940 haviam um quartel do exército brasileiro na comunidade. Quando o pai do seu Francisco voltou para morar na comunidade Caruara a terra já era do povo Ticuna, eles decidiram morar na comunidade Vila Presidente Vargas, onde seus avós nasceram, cresceram e morreram.
Quando chegaram na comunidade na década de 60, a terra já estava toda habitada pelos fazendeiros, grileiros que compraram as terras dos moradores que ali moravam – os Kaixanas e os Ticunas. Onde viviam todos em paz, faziam suas roças, suas festas sem dividir a terra. Os fazendeiros e grileiros compraram a terra bem barato, pagaram os indígenas com açúcar, fazenda (tecido), tabaco, cachaça e etc. Eles conseguiram morar na comunidade apenas com um pedaço de terra onde construíram suas casas e suas roças. Foi quando o senhor Francisco Barroso Laranhaga juntou seus parentes para formar novas comunidades e lutaram para conseguir um pedaço de terra onde poderiam viver, era a vila Presidente Vargas.
Lá todos construíram suas famílias, inclusive seu Francisco que fez mais de dez filhos. Sempre lutou para que a terra fosse demarcada, mas, até hoje não conseguiu. Desde o ano 2000 até os dias atuais ele é cacique da comunidade Vila Presidente Vargas, onde está sempre procurando a melhoria para o seu povo. Ele é uma liderança forte que luta com garra e coragem. É analfabeto, mas, debate com qualquer autoridade devido ao seu conhecimento adquirido nos encontros que participou ao longo de suas vida junto com as lideranças como o senhor Pedro Mendes, Paulo Mendes, senhor Nino Fernandes entre outros. Ele já participou de vários encontros regionais e nacionais, foi uma vez para Brasilia para lutar em prol dos direitos dos povos indígenas da Amazônia legal.
É falante da língua materna, o Ngeengatu. No ano de 2000 ele junto com a comunidade criaram a Coordenação da Organização Indígena Kaixana do Alto Solimões (COIKAS) para lutar em prol do povo Kaixana na saúde, na educação, na demarcação de terras, no reconhecimento do povo Kaixana junto a FUNAI, a SESAI e ao Governo Federal. E busca apoio com as instituições federais como Ministério Público, Polícia Federal, entre outros.
Ele já sofreu e está sofrendo ameaças de
morte. No ano de 2008 os agricultores invadiram a casa dele para matar suas família
e queimar sua casa, mas, ele não desiste de lutar. Está sempre reunindo com os
indígenas, incentivando para lutarem pelos seus direitos. Ele é um guerreiro e não desiste. Disse que só
vai parar de lutar quando ele morrer.
Isso me traz coragem para que eu possa lutar sempre pelo meu povo.
Notas
[1] Indígena Kaixana, coordenador das Organizações Indígenas do Povo Kaixana, Clã: da árvore Cauxe.
biografia