biografia

Joventina Kanela

Autor(es): Paulo Sergio Delgado , Juliana Cristina da Rosa
Biografado: Joventina Kanela
Nascimento: 1938
Povo indígena: Kanela
Estado: Maranhão
Categorias:Biografia, Estado, Goiás, Etnias, Kanela
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A trajetória de Joventina e sua relação com a história dos Kanela do Araguaia: expropriação, perseguições, silenciamentos e a luta pelo reconhecimento étnico e territorial

Introdução

Joventina Pereira dos Santos de Jesus, identificada como Cinita por seus parentes, tem oitenta anos de idade, sendo que na maior parte da sua vida permaneceu em silenciou em relação à suas origens e identidade Kanela, como estratégia de sobrevivência após ela e sua família serem expulsos das proximidades da aldeia Porquinhos no Maranhão e se deslocarem para Goiás e depois para áreas localizadas entre os municípios de Santa Terezinha e Luciara, no Araguaia mato-grossense. Sua biografia permite a compreensão da dimensão da trajetória do seu povo, os Kanela do Araguaia, que estão imersos num processo de expropriação territorial, violência física e simbólica, silenciamentos que foram rompidos em processos recentes de reivindicação de reconhecimento étnico e direitos territoriais, como forma de assegurar formas exclusivas de ser e viver.

Diante disso, essa narrativa foi construída como forma de encadear os relatos de Joventina de forma cronológica como mecanismo de compreensão dos processos históricos mais amplos, identificando acontecimentos que foram fundamentais para a consolidação de uma trajetória de seu grupo e na luta pelo reconhecimento étnico e territorial dos Kanela do Araguaia nas duas últimas décadas. É preciso compreender que a narrativa de Joventina está imersa numa luta por reconhecimento étnico e territorial e que esse é seu lugar de fala, onde a memória e a fala são entrecruzadas de silenciamentos e seletividades ligadas à suas intenções políticas do presente e sua compreensão sobre sua história.

No entanto, o reconhecimento de sua posição enquanto narradora não deslegitima seus relatos e memórias, pois os mesmos não fazem parte da história oficial, pois “[…] o perigo maior, no fim do percurso, está no manejo da história autorizada, imposta, celebrada, comemorada – da história oficial”, conforme alerta Ricoeur (2007, p. 455).

Essa história autorizada está fortemente ancorada à uma construção social de uma memória oficial imersa em relações de poder. Pollak (1989, p. 05) ressalta que “[…] a clivagem entre memória oficial e dominante e memórias subterrâneas, assim como a significação do silêncio sobre o passado” está ligada não apenas à dominação estatal em relação à sociedade civil, mas “[…] com mais frequência esse problema nas relações entre grupos minoritários e sociedade englobante”. Para o autor, quando esses grupos minoritários passam a narrar e contar a sua versão da história, vêm à tona aquelas memórias subalternas que entram num campo de disputa, e “[…] isso mostra que a memória e a identidade são valores disputados em conflitos sociais e intergrupais, e particularmente em conflitos que opõem grupos políticos diversos” (POLLAK, 1992, p. 05).

O que foi formulado em teoria através da observação de outras situações, pode ser analisado ao longo da narrativa de Joventina que relata como, por anos, permaneceram em silêncio sobre suas origens e identidade até que, após a morte da mãe, a “causa” fez emergir memórias, narrativas e ações estratégicas que sustentam sua luta pelo reconhecimento étnico e territorial. Portanto, para além de uma breve fundamentação teórica, é preciso deixar que seus relatos tragam algumas dimensões de relações, fenômenos e processos sociais e culturais que contam parte da história do Brasil não apenas como nação, mas como um território permeado de diversidade de memórias e histórias.

Joventina e o povo Kanela do Araguaia: “Tenho muita história pra contar”

As narrativas de Joventina que ordenam essa narrativa foram registrados em setembro de 2016 e junho de 2017 no município de Santa Terezinha, no Mato Grosso. O primeiro encontro ocorreu em sua casa “na rua”, ou seja, na cidade, onde foram chamados seus familiares para uma reunião com os pesquisadores do Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos (NERU)[3] da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) que faziam um relatório de campo sobre os impactos da agricultura moderna no Araguaia mato-grossense. Seu filho Vilmar Koxywary Kanela era o cacique que liderava um movimento naquele município[4] que havia sido iniciado na década anterior de reconhecimentos étnico e territorial do povo Kanela do Araguaia. No entanto, ali ficou evidente que a dona da memória e da história era Joventina, que desde o início deixou claro à equipe de pesquisadores: “Tenho muita história pra contar, moço!”[5]. Na ocasião, Joventina tinha seus 78 anos e agregava em volta de si seus nove filhos, netos e bisnetos que encheram a casa rapidamente e que ouviam atentos suas histórias e participavam dos diálogos de tal modo que eram também narradores de acontecimentos que nem presenciaram, mas que eram parte de suas próprias trajetórias.

Ao sair da reunião, a equipe dialogou sobre a indefinição do reconhecimento territorial de uma área que o cacique havia indicado, pois não haviam nenhum processo administrativo junto à Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e nenhum grupo de trabalho para realizar o Laudo Antropológico[6]. No entanto, em janeiro do ano seguinte, esse mesmo grupo estava ocupando aquela área e estabelecendo ali a Aldeia Tapiraka, demonstrando mais uma vez que as ações e estratégias são dinâmicas.

Em junho de 2017 parte da equipe[7] de pesquisadores do NERU foi conhecer a aldeia e saber mais sobre esse processo de luta pela terra. Constatou-se que em menos de seis meses, diante das indefinições dos entes estatais, Joventina e sua família haviam tomado a iniciativa de ocupar um lugar, conforme a memória da matriarca, a eles pertencente. O cacique Vilmar Koxywary Kanela estava animado, apresentando as novas construções, a abertura consciente da matinha sem derrubar árvores maiores, desenhos e croquis da área ocupada em meio à relatos sobre seus usos e planejamentos futuros. Sua mãe estava igualmente radiante e ainda mais solícita a narrar suas histórias baseadas nas memórias do passado e explicar qual eram seu “sonho”, sua “causa” e sua “imaginação” para o futuro. Transitando entre o que Koselleck (2006) denomina de campo da experiência e horizonte de expectativa, Joventina conta a história de sua vida e do seu povo.

A infância marcada pela violência, medo, expropriação e deslocamento forçado na década de 1940 no Maranhão

Joventina nasceu no ano de 1938 em São Raimundo da Mangabeira, à quarenta quilômetros da aldeia Porquinhos situada no município de Barra do Corda, Maranhão. Ao lembrar e descrever quem era a sua mãe, Ana de Nazaré Batista dos Santos e o seu avô materno José Batista dos Santos, Joventina disse que era “índia legítima, filha de índio que nasceu dentro de aldeia”.

A memória de Joventina está permeada de elementos ligados ao mundo do trabalho, e se lembra, que quando sai das proximidades de Porquinhos, tinha dez anos de idade e trabalhava na roça e em casa, onde “[…] tinha um negócio, que não sei se vocês sabem, negócio de fiar algodão, fazer rede, fazer coberta, fazer essas coisa”[8]. Seus relatos reforçam a ideia de que eram uma família de trabalhadores, onde seu pai e um irmão procedentes do Piauí, trabalhavam junto com os seis cunhados que saíram da aldeia Porquinhos. Ao ser indagada de como era sua vida na infância além do trabalho, e se haviam festividades, ela afirmou veementemente:

 Tinha nada! Por que a gente tinha medo! Não podia nem comemorar nada. Que a agente trabalhava lá era com medo. Os fazendeiros eram muito… e nóis vivia num lugarzinho cercado deles. E ai… nem comemorava, só trabalhava[9].

Em outro momento, Joventina reforça a situação de vulnerabilidade de sua grupo doméstico, pois onde moravam e trabalhavam “era terra de fazendeiro”. Não falavam na língua Kanela por medo de represarias: “Se não, aí eles perseguia nóis. Por que eles sabiam que meu avô e minha mãe tinham vindo lá de dentro da aldeia e eles sabiam disso não é. E ai a gente ficava caladinho por lá[10]”. Assim, Joventina reforçou que seu cotidiano quando criança já era marcado pelo medo da violência dos fazendeiros e pela negação da identidade indígena. Tal situação é reflexo da ocupação, por fazendeiros desde o século XIX, dos territórios habitados pelos Kanela.

E de fato, ela e sua família estavam cercados e vulneráveis diante de criadores de gado que se instalavam naquelas redondezas e passaram a realizar ameaças e massacres contra os povos indígenas que ali viviam desde 1913 até a década de 1960. Esses massacres, sobretudo o primeiro, fez com que os Apanyekrá se espalhassem e fugissem. Alberto Luiz Rizzo de Oliveira (2006), analisou essas situações conflitivas por meio de documentos do Serviço de Proteção ao índio (SPI) e correspondências de membros de algumas famílias mais poderosas de criadores de gado, que chegaram à enviar correspondências ao então presidente da república Getúlio Vargas, relatando supostas ameaças dos indígenas. Porém, o que ocorreram foram ameaças em meio à uma situação de “matança” de índio, gerando uma situação de conflitos constantes. Essa situação pode ser identificada nas informações levantadas por Julio Cézar Melatti entre 1962 a 1972, que estão reunida num documento intitulado Os Craôs mortos no ataque de 1940[11], onde o antropólogo anotou as seguintes informações:

Akrei {227} morava em Travessia, que foi atacada por Arruda; por isso Akrei veio para cá quando era menino e aqui cresceu. Informa que nos Porquinhos estão os Kenpokamekrá (eu lhe tinha dito Kenkateyê e ele corrigiu para Kenpokamekra), os Krutkateiê e os Krinkatire. Estes últimos são os mais antigos no local. No Ponto estão os Txokamekrá, os Koimakrare, os Mukurukateiê, os Iromkateiê, os Krẽiê. Quanto aos Ramkokamekrá, primeiro negou que estivessem no Ponto e depois corrigiu, confirmando que são do Ponto. Os habitantes do Ponto e dos Porquinhos são Canelas. Um irmão do pai de Akrei, Krãkoañ, morreu por bala do pessoal de Arruda. Para Akrei, os únicos Krahôs puros são Pãnãrã {316}, Chiquinho {329} e Joãozinho {358}. [Anotado em 18/12/1962, na aldeia de Lagoa (2.1) — D1: 605] p.17).[12]

Logo, toda aquela região estava fortemente comprometida pela presença e atuação de criadores de gado que tentavam expropriar as terras desses povos, promovendo massacres. E essa situação foi descrita por Joventina:

Nóis tinha que ir embora… fazer o quê, não é? No ano daquele massacre que teve lá na aldeia dos Porquinhos… mataram muito índio… até padre morreu lá! Porque os padre davam uma mão pelos índio, pelos pobre… que estavam em torno de todas as terras não é? Não queriam nenhum índio morando lá[13].

Joventina apresenta uma temporalidade que marcou sua infância e foi repetido nas duas conversas que a equipe teve com ela, que se referiu à “época dos massacre que teve lá na aldeia dos Porquinhos, naquelas aldeia tudo” quando “mataram padre, mataram índio, mataram tudo”. Existe um marco na memória de Joventina que atrela o massacre à necessidade de terem que fugir, expulsos “Por que a gente era índio. Souberam que a gente era índio, aí os fazendeiro correu com nóis de lá”[14]. Desde criança ela foi perseguida e expulsa das casas e do lugar onde morava por esse fato, sendo que nessa primeira expulsão: “Nós tivemos que sair de casa meio noite, por que eles iam matar nóis e botar fogo na casa. Isso foi em 49 [1949]”[15].

 Ele sempre ameaçava nóis que era pra ir embora de lá, que a terra era deles, que nóis não podia ficar lá, trabalhar lá. Fazer nada lá. E ai, quando foi um dia, ele mandou dizer pra meu pai que se nóis não fosse embora de lá, ele ia botá fogo nas casas, ia mata nóis[16].

As ameaças eram constantes e haviam obtido resultado. Ao ser indagada sobre quem ameaçou e expulsou ela e sua família do Maranhão, Joventina relatou:

Os fazendeiros… que não queria nós lá perto. Não queria nós perto.  Lá de onde eu nasci e morei dez anos, nós saímos de lá corrido. Saímos da nossa casa uma meia noite. Corrido.  Com medo de matar nós e colocar fogo na nossa casa.  Nós saímos de lá e venha me embora para cá, para cá numa distância de uns 5… uns 8 km, e de lá desse lugar que nós viemos embora e estamos aqui[17].

A partir dessa expulsão, a trajetória de Joventina passou a narrada como um deslocamento constante que acaba no Mato Grosso, como algo continuo, mas que foi marcado por paradas e duas grandes viagens: a primeira do Maranhão para Goiás e a segunda dali para o Mato Grosso. Ela relata que a primeira foi “Uma viagem longa… um mês e dezoito dias de viagem”. Entre “grandes e pequenos”, eram onze pessoas que viajaram, “[…] um bocado de criança. Era os filhos da minha mãe e da irmã dela…. tudo viemos caminhando”[18]. Além dessas pessoas, viajavam três animais de carga que traziam roupas, alimentos e a “dormida”, que eram as peças usadas para se acomodarem para dormir. E dessa forma, ela e sua família chegaram a Goiás.

 

A família e o trabalho na juventude em Goiás: entre o “calar” o “descobrimento” sobre ser índio e uma nova expulsão na década de 1950

As lembranças de Joventina sobre Miracema, estado de Goiás estão fortemente ligadas à sua família. Ela relata que, quando chegaram:

Preparamos um acampamento… sempre nóis morava junto. Todo mundo… morava pertinho. Toda a vida nóis moramos perto. Nunca foi uma família de espalhá assim um pra um rumo, outro…. Agora essa família nova que está vindo é que saem para estudar, saem para trabalhar, sai pra morar. Mas os mais velho, sempre onde fica um, os outros também ficava perto[19].

Unidos, permaneceram três anos, de 1949 a 1952, em Miracema, Goiás. Foi ali onde Joventina se casou. “Com dezesseis anos eu casei. Mas fiquei morando lá junto, pertinho de meus pais Meu pai trabalhava de roça, meu marido também. A gente tinha uma vida tranquila. Naquela época as coisa era fácil”[20]. Seu esposo, Raimundo Batista dos Santos, também era índio “mais distante” pois havia saído antes de Porquinhos, e sendo filho de Valeriano Batista dos Santos: “Nóis era parente. Primo segundo”. A mãe havia recomendado o casamento, pois “[…] minha mãe era que queria assim, que ficasse entrando muitas família… de fora, sem ser índio no meio da família”[21]. Ela ainda relata que tem muitos casamentos entre primo-irmão dentro de sua família:

 Tio Manuel casou com uma prima segunda… prima primeira.  A… a tia Benedita casou o primeiro casamento, que era irmã da minha mãe, com um primo primeiro.

E assim os mais novo foram casando já com primo segundo, essas coisas. Sei que a família cresceu rápido. Mas tudo uma família só[22].

Tais casamentos endogâmicos, regulados pela primeira matriarca – a mãe de Joventina, constituíram formas estratégicas de permanência e continuidade étnica. Assim, por meio desta forma e estratégias de continuidade, ali mesmo a família cresceu com o nascimento das três filhas mais velhas. O novo casal e os outros familiares se dedicavam ao cultivo de roças, em meio ao silenciamento sobre sua identidade: “Não dava assunto nenhum que a gente era índio. Mas ai vai chegando uma pessoa doutro canto, vai chegando outro e vai falando daquela história, e ai a gente já ficava assim…”[23]. O silenciamento se dá até na narrativa que se baseia numa memória traumática oriunda de tempos em que o medo rondava a vida dela e de seus familiares. Ao ser diretamente indagada se sentiam medo de falar que eram índios, Joventina foi direta:

 Nóis tinha, por que nóis fomo perseguido muito. Do Maranhão, a gente saiu da casa meia noite, escondido, porque os fazendeiro falaram que iam matar nóis, jogá fogo na casa, acabar com tudo. [Pausa] E ai a gente ficou com aquele medo[24].

Para uma mulher como Joventina, forte e que lidera seus filhos, é certamente difícil narrar que sentia medo, pois era uma situação limite de ameaça de morte e de destruição de tudo que era parte de sua vida. A tristeza daquele momento pode ser sentida sete décadas depois, pelo tom e o ritmo da voz que se reduziram ao longo dessa narrativa. Joventina relata que: “A gente tirou de casa aquelas coisas melho que pode carregar e deixamos os resto na casa de um vizinho que não era índio, e sai”.

Novamente, Joventina sai da situação pontual e a insere numa narrativa linear marcada pelas expulsões pelo fato dela e sua família serem índios:

[…] ai foi dificultando, dificultando as coisas. Mas em cada lugar que eu tava morando, de Porquinhos pra cá, do Maranhão pro Goiás, a gente veio com meia pressa, porque quando os fazendeiro descobriram que a gente era índio, eles começaram a escorraçar nóis[25].”

 Em todas as conversas com Joventina, essas expulsões motivadas pelo fato dos fazendeiros descobrirem que eram índios é contada e retorna em diversos momentos de sua narrativa onde deixa claro que percebiam como eram vistos de forma pejorativa pelos “fazendeiros”. Um dos trechos mais expressivos de sua narrativa está imerso nessa relação: “Quando chegamos em Goiás, com o passar do tempo, aí começaram a descobrir que a gente era índio. Não davam mais apoio pra gente, e índio era… pra eles, índio era um bicho”[26].

Havia, portanto, a necessidade de esconder sua origem e identidade, pois em todas as situações, o fazendeiro “descobria” quer eram índios e os expulsava do lugar, como ali em Miracema, Goiás:

 Descobriram que nóis era índio. Que viemo do Maranhão, por que nóis viemo correndo de lá por que os fazendeiro no expulsaram de lá e nóis cheguemos, não tinha terra, um homem chamou nóis pra morar lá num lugar… lugar dele. E nóis foi mora lá. Ai, ele foi e descobriu que nóis era índio… e… mandou nóis embora. Nois saímos e viemo embora aqui pro Mato Grosso[27].

Ao ser indagada se o homem que os acolheu em suas terras havia deixado claro que o motivo da nova expulsão pelo fato de serem índios, Joventina foi enfática:

 Falou! Ele falou: ‘olha, vocês tão aqui, eu botei vocês aqui, e ai depois fiquei sabendo que vocês eram índio, que vocês são índio, que vieram do Maranhão… por que lá não tiveram apoio não é… que esses era índio. E índio a gente não apoia aqui, não tem… não tem tribo de índio nenhuma e por que que vou aceitar vocês aqui? Você já vieram de lá por que não tiveram apoio de lá’.

Tinha medo… Sabe que tem direito mesmo nas coisa. Só que nóis nunca ficamo em lugar nenhum pensando em nada de ninguém[28].

O medo e o silenciamento são constantes nos relatos de Joventina, que desde a primeira conversa reforça que ela e sua família não tinham sua terra, haviam fugido de seu lugar de origem e continuavam enfrentando os mesmos problemas:

 É…  É porque a gente não tinha aonde morar, e quando a gente chegava no lugar, ficava quatro ou cinco anos por aí. Aí o pessoal começava a descobrir que tinha gente… era índio… então eles perseguiam…

Porque nós fomos umas pessoas muito perseguido. Não tinha chapoia, ai aqui no Mato Grosso que nós tivemos. Do Maranhão nós saímos corrido… do Goiás nós saímos corridos mas, a gente não era bem vindos lá… o pessoal já tava de olho na gente.

 Uma nova situação de expulsão fez com que Joventina e sua família resolvessem tentar novamente, e dessa vez resolveram vir em direção do Mato Grosso, “Porque lá [Goiás] não tinha mais… lugar pra ir, né. Eu ficava sabendo… pensei assim: diz que no Mato Grosso tem muito índio; então a gente vai procurar eles lá… ficá mais perto deles lá”[29].

 

No Mato Grosso a partir de 1960: silenciamento, cuidar da família e o compromisso com a “causa”

Joventina narrou que veio caminhando, seguindo o rio até o Lago Grande, depois da ilha do Bananal, e atravessaram de canoa. Durante a viagem, seu pai adoeceu e veio a falecer em 1954, de modo que, sendo a filha mais velha e como já era casada, Joventina ajuda sua mãe “a acabar de criar” os irmãos “até que casou a derradeira”, ou seja, até o casamento da irmã mais nova. Em terras do Araguaia mato-grossense, Joventina já era mãe de família e responsável pelos irmãos, e dessa forma que viveu a maior parte de sua vida.

Joventina lembra que quando chegou encontrou apenas a Fazenda Codeara e a Fazenda Tapiraguaia onde foi formado o município de Santa Terezinha e Mato Verdinho que era ocupada por Lucio da Luz e seus vaqueiros e que, mais tarde, passou a ser o município de Luciara. Joventina chegou numa localidade na beira do rio Araguaia, conhecida como Furo de Pedra, nas proximidades do município atual de Santa Terezinha e os irmãos foram para o Mato Verdinho que se tornou Luciara. Ela conta a história do Furo de Pedra:

 A história do Furo de Pedra eu sei, por que quando eu cheguei aqui em Santa Terezinha, aqui não tinha comércio, não tinha nada pra gente comprar nada. A gente comprava as coisas aqui esperando os barcos subir que vinham de Conceição do Araguaia ou então de cima do São Miguel do Araguaia fazendo aqui comércio na beira do rio. E a gente ficava esperando pra comprar o sal, o café, o açúcar, essas coisa assim. O arroz, a farinha, essas coisa a gente tinha. Ai… essa história do Furo de Pedra eu sei contar, por que eu cheguei aqui, só tinha três comerciante […]. pegava a canoa e descia do Furo de Pedra até Santa Terezinha[30].

Essas compras eram pagas com dinheiro proveniente da venda de farinha, banana e “coisinha pequena” que Joventina relata ser produzidas junto com o arroz e o feijão de corda, pois “todo índio maranhense é chegado num feijão”, além de pescar: “A gente pescava, mas não era muito não. Pescava não, era mais trabalha, por que se tirava pra pescar era num dia de domingo, dava uma pescadinha pra comer na semana. Pescadinha de anzol, tinha muito peixe, vixe… era peixe demais[31]”.

Os irmãos que foram pra Mato Verdinho, atual município de Luciara, passaram a criar gado como os demais retireiros depois de terem trabalhado como vaqueiros para Lucio da Luz. No entanto, Joventina e seu esposo não criaram gado, se dedicando mais à roça.

Joventina relata que encontraram os Carajá e Tapirapé e “trataram de fazer amizade” por intermédio do padre Francisco Gentel e das irmãs, mas que não houve casamento entre eles e as outras etnias locais por que, novamente, a mãe proibiu a “misturança”. Nesses encontros e conversas com o padre Jentel, Joventina relata que contou que eles eram índios Kanela:

 Falei pro padre Francisco. Ele me apoiou e ele que falou assim pra mim: ‘você não fala que você é índia e que veio do Maranhão. Fique quieta. Espera que o seu tempo vai chegar’. […] Falei pra ele, falei pra Bispo Pedro [Casaldáliga] lá de São Félix e ele também falou pra mim: ‘fique calada, não diga nada, quando você achar… um lugar pra você morar e você acha que você pode morar e que aquele é seu lugar, ai você pode falar. Pode falar’. Dom Pedro falou isso pra mim[32].

E de fato, permaneceram calados nas décadas seguintes com medo de novas situações de violências. Relata que quando chegaram não tiveram nenhum problema, mas que logo se iniciou o conflito envolvendo posseiros e a empresa agropecuária CODEARA em Santa Terezinha, que foi analisado por Neide Esterci (1987).  Joventina falou entre risos:

 Eu não desisto não.  Eu gosto de conflito… todas as coisas… eu tô pelo meio.  Não é gostar não… é o jeito…  é o jeito!  Mas eu falei “daqui eu não vou mais sair para canto nenhum”.  Não vou mais sair, já andei muito. Correndo daqui e dacolá. Cheguei aqui, encontro o conflito de 72 [1972], eu já morava aqui.  Foi feio, mas deus nos ajudou, nós batalhando e vencemos aquele conflito. Mas foi duro, hein![33]

E reafirma que “Se a gente não bate na tecla no duro, aqui era um porto da Fazenda Codeara”. Foi uma luta para permanecer naquele lugar em que estava com seus filhos:

Quando eu vim de lá, do Goiás para cá, eu trouxe três filhas.  Essa ali, essa que mora aqui e a mãe da Nelzélia[34], a Neuza.  Os outros… Eu sou mãe de nove filhos…  E os outros já nasceram já aqui:  nasceu em Luciara; nasceram em Santa Terezinha.  Tanto que eu creio eles tudo aqui, bem aqui nesse lotinho.  Que eles aqui, as filha casaram tudo, os filho casou, só tem um que ainda é solteiro[35].

Não sabe ao certo o número de netos, pois “[…] até o ano passado [2016], eu tinha 29, né.  De lá para cá, já nasceu outros”. Dos nove irmãos, sete ainda são vivos e moram no município de Luciara, Mato Grosso, sendo que ela foi a única que ficou morando em Santa Terezinha, e diante dessa situação, seu irmão Joaquim é cacique em Luciara e o filho Vilmar em Santa Terezinha.

 

A luta pelo reconhecimento étnico e territorial a partir dos anos 2000

A biografia de Joventina não se decola em momento algum da trajetória de sua família e um dos momentos mais importantes na história dos Kanela do Araguaia tem relação direta com a sua mãe, Ana de Nazaré Batista dos Santos, que havia permanecido em silêncio a maior parte de sua vida sobre sua origem e sua identidade. A mãe

Ficava [quieta], mas minha mãe era… sempre tinha esse sonho de ter uma terra, ter um lugar pra nóis morar. Minha mãe começou também a entrar nesse assunto, e ai logo morreu. E antes dela morrer ela disse assim pra nóis…. fez uma reunião com todos os filhos na porta da casa dela, e falou assim pra nóis: ela sabe que ela não tem mais muitos dias de vida, já está muito curto o tempo de vida dela, ‘mas eu entrego o meu sonho, a minha realidade na mão da Sininha’ – foi pra mim. Eu me levantei, abracei ela e falei: ‘eu vou ficar com a sua causa’. [Pausa para choro][36].

  Um momento de grande emoção, e continua em meio ao choro:

E a minha imaginação é assim: se eu ganhar essa causa, com muita fé em Deus nós vamos ganhar, eu vou buscar meus irmãos pra vir morar aqui comigo. Por que… era uma causa da minha mãe.

[…]

Então minha imaginação é essa. Nesse pedaço de terra que eu tô aqui mais meus filhos, minha família. Mas na hora que tiver libera… vou buscar meus irmãos[37].

A mãe faleceu em 2004, e depois disso, algumas ações e estratégias foram adotadas pelos seus filhos, como a viagem em 2008 à aldeia Porquinhos no Maranhão, onde foram reconhecidos como descendentes de parentes que haviam fugido naquele contexto de massacres e perseguições do início do século XX.

No ano de 2009, sessenta anos depois de terem saído do Maranhão, houve uma mudança de postura e a quebra do silenciamento por parte de Joventina.

 Eu resolvi assim… eu chamei meus filhos, fiz uma reunião com eles, ai falei pra eles ‘agora… nós vamos fazer assim: toda reunião que tiver por ai assim, Luciara, reunião de retireiro, reunião disso, daquilo outro, eu vou participar. Eu quero ver como e por onde a gente começa a entrar nas coisas’. Por que eu não sabia. E assim fiz. Fui em reunião em São Félix [do Araguaia], Luciara, Porto Alegre [do Norte], é… como é que chama? O outro lugar… Altopeba, perto de Luciara, tudo eu fui em reunião pra mim escutar como é que era. Fui andando e fui ali. Quando chegou de eu ter ido numa reunião em São Félix com um índio Krahô-Kanela eu falei vou lá conversar com ele e vou explicar pra ele quem eu sou e da onde eu sou. Moço, quando eu sentei com ele pra conversar, ele levantou e me abraçou e chorou… é… chorou. O índio chama-se Mariano e mora na Lagoa da Confusão. Ele falou ‘parenta, tô aqui” e falou ‘meus pais me contaram essa história… de vocês’. Ele disse ‘parenta, vamos morar na Lagoa da Conceição?’, eu falei ‘não, eu vou caçar outro lugar pra mim’. Ai cheguei em casa, conversei com meus filhos e falei ‘eu já não guento mais andar pra cima e pra baixo’ e deixei o cargo na mão deles e falei ‘te vira meu filho’[38].

Caminhos que cruzam, um encontro e reconhecimento que injetou um novo ânimo para a continuidade da luta pelo reconhecimento étnico e territorial. Após décadas de silêncio, Joventina e parte de seus familiares passaram a buscar direitos e políticas públicas, dentro de um movimento que Pollak (1989, p. 04) conceituou como: “[…] essas memórias subterrâneas que prosseguem seu trabalho de subversão no silêncio e de maneira quase imperceptível afloram em momentos de crise em sobressaltos bruscos e exacerbados”.

Foram sessenta anos “calados”, e Joventina relata que pensava: “Eu prefiro ficar quieto por que eu já não tenho como sair daqui pra outro lugar. Vou esperar, eu tenho certeza que Deus vai me dar um lugar”[39]. A necessidade e a trajetória marcada pelo medo de ser “descoberta” e expulsão fez com que o ato de permanecer calado também se configurasse como uma estratégia: “Caladinho… calado, vendo por onde podia entrar, onde nóis podia fica. O que que a gente podia arrecadar primeiro por fora, pra depois, ser reconhecido”[40].

E assim, durante a primeira década dos anos 2000, o silêncio deu lugar às ações de planejamento e na presente década, os Kanela do Araguaia de Santa Terezinha criaram a Aldeia Indígena Kanela Tapiraka na qual o filho de Joventina Vilmar Koxywary Kanela é o cacique.

 

Na Aldeia Indígena Kanela Tapiraka: “Chega de tanto correr”

Em 06 de janeiro de 2016 entraram numa área de estimada 17 mil hectares conhecida como “Terra do Meio” por estar situada entre de um lado a Terra Indígena Karajá e de outro dos Tapirapé, além de fazer divisa com um assentamento. A área ocupada engloba áreas de varjões (margens alagáveis do rio Tapirapé), cerrado e a mata que ocupa apenas 20% do total ocupado pelos Kanela. A aldeia fica localizada num ponto mais alto, distante da área inundável dos varjões e sua entrada pode ser visualizada na fotografia abaixo:

Foto 01: Entrada Aldeia Kanela Tapiraka (2017). FONTE: Arquivo NERU/UFMT.

Além dessa área já ocupada, a outra margem do rio Tapirapé também foi pleiteada pelos Kanela junto à Fundação Nacional do índio (FUNAI) e Ministério Público Federal (MPF), pois, Joventina morou por anos naquele lugar, considerado um “patrimônio” e, segundo seu relato, a área onde está a aldeia Tapiraka era local de caça e pesca.

A entrada foi realizada após consultas à órgãos governamentais e cartórios que resultou numa identificação dessa “área branca”, ou seja, uma área sem títulos legais de propriedade expedidos. Essa situação se deve ao fato de se tratar de terras da União sob gestão do estado do Mato Grosso que não foram comercializadas, e no caso, destinadas ao loteamento e distribuição de terras por meio de assentamento rural. Segundo relatos dos interlocutores, a área que não foi regularizada como assentamento foi ocupada pelo proprietário da Fazenda Porto Velho que arrendou suas terras para a produção de milho e soja. Além do conflito com a Fazenda Porto Velho, o Kanela enfrentam o desafio de conseguirem apoio dos Tapirapé e Karajá para evitarem a extração da madeira da área e a incursão de “caravanas” de pesca predatória.

Neste contexto de luta pela terra e reconhecimento étnico, o MPF apoiou a criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mato Verdinho que englobaria as áreas de varjões dos rios Araguaia, Tapirapé e Xavantinho que atenderia às reinvindicações de regularização de territórios tradicionalmente ocupados por populações tradicionais como os retireiros, a ampliação de uma Terra Indígena dos Tapirapé e a criação de outras para os Kanela. No entanto, a Superintendência de Patrimônio da União recuou de sua proposta publicada pela Portaria 294 em 2014 que, em seu artigo primeiro, declarava de interesse do serviço público: “[…] o imóvel da União, caracterizado como várzea do Rio Araguaia […] com área de 1.627.686,4495” e que abrange partes dos municípios de Luciara-MT, Canabrava do Norte-MT, Novo Santo Antônio-MT, Porto Alegre do Norte-MT, Santa Terezinha-MT, São Félix do Araguaia-MT, Formoso do Araguaia-TO, Lagoa da Confusão- TO e Pium-TO. Três meses depois, a Portaria 10 do SPU revogou a anterior e constituiu um novo Grupo de Trabalho para das andamento aos estudos de identificação das áreas.

No entanto, quatro anos depois, nem a SPU e tampouco a FUNAI apresentaram laudos antropológicos ou relatórios passíveis de constituírem peças jurídicas do processo de demarcação de Terra Indígena para os Kanela. No entanto, a ocupação da área foi efetivada pelos Kanela, e segundo Joventina, ali vai permanecer, pois já havia trazido todos os seus pertences:

 Todas, minhas roupas, minhas galinhas, minhas dormida. Separei e reparti minha cozinha lá da rua e trouxe… panela, prato véio, tudo, tudo. Metemo num caminhãozão e viemo com a mudança. […]. Paramo bem ali na frente, derrubamo a mudança e os menino entraram aqui de facão[41].

Abriram a golpes de facão uma área da qual já haviam sido extraídas madeiras e restavam apenas as árvores menores, de modo que o local já era uma clareira. Joventina e seus filhos fazem questão de reforçar que não derrubaram nenhuma árvore durante a ocupação, sendo que até as madeiras das casas são velhas e reaproveitadas, “cheias de brocas”. A escolha desse lugar se baseou nessa motivação ambiental e as ações dos membros da família de Joventina divididos entre abrir a matinha, construir casas, limpar, cozinhar e outras atividades que envolveram trinta e seis pessoas que firam acampadas por um mês.

Foto 02: Casas da Aldeia Kanela Tapiraka (2017). FONTE: Arquivo NERU/UFMT.

Dos nove filhos criados, quatro moram na aldeia e duas que moram “na rua” pretendem morar na área depois de aposentarem. Logo, são todos familiares:

E o mais [além dos filhos] é só neto, bisneto e sobrinho que mora aqui. Eu não tenho nenhuma pessoa que não é meu sangue… só uma nora e dois genro, que eu tenho aqui. E não é meu sangue, mas é minhas pessoas, né[42].

Uma das principais questões abordadas ao longo das narrativas de Joventina é a união da família para buscar o sonho de ter uma terra para trabalhar e criar os filhos. Ela relata que disse aos filhos: “[…] um dia vou realizar meu sonho. Vou! Ter a minha terra, trabalhar da minha cultura, ter minha cultura…”.

Dessa forma, na sua compreensão, a mudança “da rua” para a aldeia se deu a partir de seu desejo e sua ação de “… ir acolhendo eles… contanto a minha história pra eles e… pedindo pra eles que não esmorecesse, não se afastassem, e que um dia nóis se unia tudo junto. E graças a Deus nóis estamo reunidos[43]”. Faziam quase dez anos que Joventina estava planejando essa mudança para aquela área motivado pela

[…] vontade de ter um lugar pra morar, pra criar os filhos da gente, pra tirar da rua. Porque senão nóis vamo criar os filhos sem lugar e nóis vamos trabalhar, não é? Por que lá na rua, qual é o serviço que tem? É estudar, voltar pra casa… não tem nada pra… Então, eu pensei e juntei meus filhos, todos pai e mãe de filho, “nóis vamo procurar um lugar pra morar e criar nossos filho lá dentro. Lá também estuda, lá também foram, tudo, olha, o colégio deles é bem ali. Quando terminar o… o… aviso… não temos até como melhorar. Nós tamo aqui com mais tranquilidade. Ensinar eles trabalhar como eu fui criada, trabalhando na roça, tendo as coisa, pra sair daquela dificuldade de comprar as coisa na rua[44].

Porém, o entusiasmo presente na narrativa da ocupação do lugar e da formação da Aldeia Indígena Kanela Tapiraka não escondem as ameaças reais à permanência de Joventina e sua família. Ela relata que:

 Quando o filho do fazendeiro veio, nove hora da manhã, aqui e falou pra nóis… ali naquela porteira, que cinco hora da tarde ele vinha, e que ele vinha e não queria mais nóis aqui. Eu falei ‘não vou sair’. Quando deu cinco hora que ele chegou [falou]: ‘eu não falei que eu não queria mais vocês aqui?’. ‘O senhor falou, mas eu não vou fazer. Não vamos sair. Eu não falei pra você que nóis não vamo sair? E não vamos’. Falei ‘senhor, eu não vim, pra cá pra voltar’, eu disse assim.

[Pausa].

Chega de tanto correr![45]

E assim, com uma frase emblemática, Joventina coroa a narrativa que permitiu compreender como sua biografia e trajetória estão imersas num processo mais amplo de luta pelo reconhecimento étnico e territorial que não apenas os Kanela do Araguaia têm vivenciado. Ela deixa claro que dali, da aldeia Indígena Kanela Tapiraka, não pretende mais “correr” e fugir de fazendeiros, enfrentando-os, junto com seus familiares, pois ali é seu lugar. Ela não é apenas uma Kanela, mas uma Kanela do Araguaia.

 

 

Referências bibliográficas

 ESTERCI, Neide. Conflito no Araguaia: Peões e posseiros contra a grande empresa. Petrópolis: Vozes, 1987.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: Contribuição à semântica dos tempos históricos.  Tradução Wilma Patrícia Maas, Carlos Almeida Pereira, Cézar Benjamin. Rio de Janeiro: Contratempo: Ed. PUC-Rio, 2006.

OLIVEIRA, Alberto Luiz Rizzo de. Messianismo Canela: entre o indianismo de Estado e as estratégias do desenvolvimento. Tese [Doutorado em Políticas Públicas], UFMA, São Luiz, 2006.

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. In: Revista Estudos Históricos, Brasil, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.

__________ Memória e identidade social. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, p. 200-212, 1992.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas-SP: Editora UNICAMP, 2000, (p.423-459).

Fontes Documentais

Joventina Pereira dos Santos de Jesus. [Entrevista].  23 de setembro de 2016. Local: Residência da entrevistada no município de Santa Terezinha, Mato Grosso. Entrevistadores: Paulo Sergio Delgado, Juliana Cristina da Rosa, João Carlos Barrozo, Sandro Aparecido Lima dos Santos e Beatriz dos Santos de Oliveira Feitosa.

Joventina Pereira dos Santos de Jesus. [Entrevista].  12 de junho de 2017. Local: Aldeia Indígena Kanela Tapiraka, município de Santa Terezinha, Mato Grosso. Entrevistadores: Paulo Sergio Delgado, Juliana Cristina da Rosa e Beatriz dos Santos de Oliveira Feitosa.

MELATTI, Júlio Cézar. [Relatório] Os Craôs mortos no ataque de 1940. 2009.

Disponível em: <http://www.juliomelatti.pro.br/craodados/craomassacre.pdf> Acesso em: 24/02/2017.

Notas

[1] Antropólogo. Professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Mato Grosso. Membro do Núcleo de Estados Rurais e Urbanos da UFMT.

[2] Cientista Social e Historiadora. Membro do Núcleo de Estados Rurais e Urbanos da UFMT.

[3] A equipe estava composta pelos autores, e também pelo sociólogo Sandro Aparecido Lima dos Santos e João Carlos Barrozo, bem como pela historiadora Beatriz dos Santos de Oliveira Feitosa.

[4] Existem outros caciques Kanela nos municípios de Canabrava do Norte, Luciara, Porto Alegre do Norte e São Félix do Araguaia. Cada um desses grupos compartilha laços de parentesco e a luta pelo reconhecimento étnico e territorial, no entanto, apresentam estratégias políticas de ação que apresentam especificidades que não serão analisadas nesse texto.

[5] Joventina Pereira dos Santos de Jesus. Entrevista realizada no dia 23 de setembro de 2016 na residência da entrevistada no município de Santa Terezinha, Mato Grosso. Entrevistadores: Paulo Sergio Delgado, Juliana Cristina da Rosa, João Carlos Barrozo, Sandro Aparecido Lima dos Santos e Beatriz dos Santos de Oliveira Feitosa.

[6] O Laudo Antropológico constitui parte essencial do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RECID), produzido por um Grupo Técnico instituído por meio de portaria emitida pelo Presidente da FUNAI. O mesmo é parte de um processo administrativo instaurado pela FUNAI nos procedimentos de reconhecimento étnico e territorial.

[7] Dessa vez retornaram os dois autores juntamente com Beatriz dos Santos de Oliveira Feitosa.

[8] Joventina Pereira dos Santos de Jesus. Entrevista realizada no dia 12 de junho de 2017, na Aldeia Indígena Kanela Tapiraka, município de Santa Terezinha, Mato Grosso, pelos pesquisadores Paulo Sergio Delgado, Juliana Cristina da Rosa e Beatriz dos Santos de Oliveira Feitosa.

[9] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[10] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[11] Disponível em: <http://www.juliomelatti.pro.br/craodados/craomassacre.pdf> Acesso em: 24/02/2017.

[12] Disponível em: <http://www.juliomelatti.pro.br/craodados/craomassacre.pdf> Acesso em: 24/02/2017.

[13] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[14] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[15] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[16] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[17] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2016.

[18] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[19] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[20] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[21] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[22] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[23] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[24] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[25] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[26] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[27] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[28] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[29] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[30] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[31] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[32] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[33] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2016.

[34] A referência à neta Nelzélia se deve ao fato de que foi ela que apresentou os pesquisadores à sua família, pois era aluna do curso de Ciências Sociais da UNEMAT no qual a autora Juliana Cristina da Rosa ministrou aulas e foi orientadora de seu trabalho de conclusão de curso.

[35] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2016.

[36] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[37] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[38] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[39] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[40] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[41] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[42] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[43] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[44] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

[45] Joventina Pereira dos Santos de Jesus, 2017.

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