biografia

Cacique Zé Bajaga

Autor(es): José Raimundo Pereira Lima
Biografado: Cacique Zé Bajaga Apurinã 
Povo indígena: Apurinã
Terra indígena: Aldeia Idecora, Terra Indígena Caititu, no município de Lábrea
Estado: Amazonas
Categorias:Estado, Amazonas, Etnias, Apurinã, Biografia
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Cacique Zé Bajaga Apurinã  (Autobiografia)

Eu, Cacique Zé Bajaga Apurinã (na carteira de identidade, José Raimundo Pereira Lima), sou cacique, sou agricultor, pescador e caçador. Na minha língua apurinã, meu nome é Äkyti; na língua paumari, que é da minha mãe, meu nome é Badhaha. Sou da aldeia Idecora, Terra Indígena Caititu, no município de Lábrea, Amazonas. Nasci na Boca do Caipiru, lá no rio Ituxi, a muitos quilômetros de Lábrea – são cinco dias de viagem de remo daqui até lá.

Minha trajetória no movimento indígena vem desde 1986, 1987, quando a gente já começou a participar, junto com seu Agostinho Mulato. Depois, dei uma parada. Continuei nos movimentos sociais, andando por alguns lugares, e retornei a Lábrea em 2002, para assumir de fato a liderança da minha aldeia, pois eu nasci para ser cacique. Retomei a liderança da aldeia Idecora, e estou na liderança da aldeia até hoje.

O meu povo Apurinã tem mudado muito. Hoje, nós estamos vivendo mais próximo das cidades. A questão da cultura, em parte, nós estamos perdendo. A nossa língua materna, uns 55% já não falam mais. E continuamos perdendo a língua. Nós éramos um povo nômade, agora a gente está mais próximo, principalmente da cidade, pelo motivo da educação, para ver se construímos algo melhor para nós. Nós, Apurinã, somos um povo do Purus. Nós vivemos à margem do Purus. Temos povo Apurinã em Beruri, Taupauá, Canutama, Lábrea, Pauni, Boca do Acre. E, assim, também estamos em Rio Branco, Manaus. Estamos hoje espalhados por muitos cantos. Tem Apurinã em Porto Velho. É como estamos hoje, estamos muito expostos, perdendo parte da nossa cultura.

Eu vim para ser cacique em 2002, e assumi a liderança. Eu assumi a liderança do movimento indígena no Purus no final de 2007, no mês de novembro, no momento da queda das organizações indígenas no convênio com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Aqui, a nossa organização que tinha o convênio era a Organização dos Povos Indígenas do Médio Purus (Opimp). Com essa desestruturação do governo, através da Funasa, o movimento indígena do Médio Purus ficou sem cabeça. Foi quando eu assumi, no final de 2007. Assumi com a missão de fazer a articulação dos povos indígenas no Purus, de pensar em uma Fundação Nacional do Índio (Funai) e em um movimento indígena mais fortes.

O interessante é que a  Opimp falava de Médio Purus, mas só ficava entre Lábrea e Tapauá; passava por Canutama como se não existisse. Então, fiquei à frente do movimento indígena para fazer uma articulação de ponta. Sempre eu tive o sonho de reunir o Purus indígena, e conseguimos fazer essa articulação do final de 2007 a 2010, quando foi criada a Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (Focimp),  em 23 de maio. Fiquei à frente da organização, da criação até a assembleia de 2016. Conseguiu unir o Purus, os seis municípios do Purus: Beruri, Tapauá, Canutama, Lábrea, Pauini e Boca do Acre. A gente conseguiu colocar na Focimp pessoas representando esses seis municípios. Dessa forma, o movimento indígena do Purus  ficou bem fortalecido. Continuo no movimento indígena até hoje. Sou do conselho da Coordenação das Organizações da Amazônia Brasileira (Coiab), que envolve os nove estados da Amazônia.

Na passagem de 2015 para 2016, recebi um convite do presidente da Funai, o João Pedro. Ele me fez um convite para fazer parte da Funai. A proposta dele era que eu ficasse na Funai para usar os conhecimentos que já se tinha, para andar nas outras coordenações regionais (CRs) e nas coordenações técnicas locais (CTLs), para conversar, articular. Porém, o João Pedro deixou a presidência e eu fiquei quase preso aqui na CTL Lábrea. O bom disso é que, assim, a gente vê as dificuldades que se tem dentro do governo. A gente não poder fazer… Na verdade, não se pode quase nada  nunca. Essa é a dificuldade das lideranças indígenas que entram para o governo. Elas servem como uma borracha, um amortecedor para os outros. Todo o impacto dos parentes. A gente recebe crítica dos parentes, recebe críticas das outras pessoas do governo. É um pouco difícil trabalhar nas condições que dão para a gente.

Eu vejo minha comunidade hoje um pouco… Ela perdeu aquela coisa que a gente tinha, um pouco da nossa identidade. Ela não está como era antes. Depois que meu pai e minha mãe foram embora do planeta Terra, a gente ser desestruturou um pouco, mas eu vejo minha comunidade hoje se fortalecendo novamente.

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