biografia

Dona Emília

Autor(es): Angelina dos Santos Silva
Biografado: Emília Olindina dos Santos
Nascimento: 1932
Povo indígena: Pankará
Estado: Pernambuco
Categorias:Biografia, Etnias, Pankará, Estado, Pernambuco
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Emília Olindina dos Santos, conhecida como Dona Emília, nasceu no dia 25 de maio de 1932, na aldeia
Roçado, no pé da Serra da Cacaria, território do Povo Pankará. É filha de Olindina Maria de Souza e Olímpio Barbosa de Souza, naturais da Serra do Arapuá.
Tem apenas um irmão que se chama Olímpio José de Souza. Dona Emília nasceu e se criou na Serra do Arapuá, filha de agricultores teve uma infância de aprendizados com sua família, aprendeu desde cedo a trabalhar na roça, a cuidar da terra, ao mesmo tempo em que aprendia os trabalhos domésticos com sua mãe.
Seus pais, juntos com as outras famílias tradicionais que habitavam a região da Serra do Arapuá e da
Cacaria, praticavam os rituais nos terreiros localizados no território. Ainda criança, Dona Emília começou
sua participação nos rituais, dançava o Toré e ajudava a cantar os toantes, aprendeu também a fazer orações e a pedir proteção aos Encantos de Luz.
Foi no convívio diário com as famílias que moravam próximas à sua casa, nas farinhadas e nos rituais
sagrados, que conheceu Pedro Luiz dos Santos [pajé Pedro Limeira] e noivou aos 14 anos, com o consentimento de seus pais. E o casamento aconteceu em 1 de maio de 1949. Desta união vieram doze filhos, todos nascidos na Serra do Arapuá, alguns com ajuda das parteiras, outros sozinha. São dez homens e duas mulheres, sendo a filha Maria das Dores [conhecida como Dorinha], nossa cacica.
Dona Emília conta que na época foi muito difícil criar tantos filhos, pois a Serra do Arapuá já estava toda invadida pelos fazendeiros e os índios não tinham autonomia. Como meio de sobrevivência para
sustentá-los, ela e seu marido arrendavam terras e faziam roça, completavam renda com a produção de
vassoura e corda de caroá. O artesanato, que aprendeu com seu pai, era vendido nas feiras de Belém do
São Francisco e Floresta, bem como frutas cultivadas pela família, tais como: caju, pinha, banana, goiaba,
abacate, entre outros.
Conta ainda que muitas vezes, nas épocas de grande seca, seu Pedro Limeira precisava sair a
procura de serviços nas regiões ribeiras do Rio São Francisco e até em outros estados. Sozinha, a responsabilidade com a família e o sustento dos filhos, aumentava para Dona Emília. A preocupação ia desde a educação dos filhos às atividades da roça, enquanto a ajuda de seu esposo não chegava. Dona Emília conta que esse fato aconteceu por várias vezes, pois seu esposo precisava buscar o sustento para não ver sua família passar necessidade. Nos anos bons de chuva conseguiam alimentos como feijão, milho, batata, entres outros gêneros para passar o resto do ano até chegar a próxima época de plantio.
Dona Emília é uma mulher forte, que vivenciou junto com seu esposo e seu sogro, o senhor Luiz Limeira, a luta contra os posseiros da região para a garantia de nosso território tradicional.
Na década de 1940 acompanhou e participou de todo o processo de reivindicação pela posse do território junto ao Serviço de Proteção ao Índio (SPI), como também sofreu muito com toda a perseguição dos não índios e da polícia contra o povo Pankará e contra seus parentes e vizinhos Atikum-Umã. Esteve presente em um momento importante na história indígena desta região, quando seu povo decidiu subir à Serra Umã para ajudar no reconhecimento dos Atikum pelo SPI, que resultou na construção do Posto Indígena em 1949.

Foi uma conquista para o povo Atikum, mas não foi o mesmo para o povo Pankará, apesar de toda a
participação nesta luta, o SPI e depois a FUNAI, renderam-se ao mandonismo dos fazendeiros e negaram o nosso reconhecimento oficial. Foram momentos de sofrimento e perseguições, momentos esses, vividos no período de 1940 a 1970. Dona Emília continuou educando seus filhos e filhas no ritual e
sustentando os terreiros de Toré na serra junto as demais famílias tradicionais.
Somente no ano de 1999 o povo Pankará pode reiniciar a luta territorial e Dona Emília já era uma
anciã. Junto ao seu esposo, o pajé Pedro Limeira, se une aos outros mais velhos e começam a contar para os mais novos toda a história do povo e como por muito tempo nossos direitos nos foram negados. A partir deste momento, a sabedoria dessa mulher na tradição do Toré e na organização da comunidade, foi fundamental à rearticulação dos Pankará como povo. Em 2009 vem a conquista do processo de regularização do território pela Funai.

Hoje, Dona Emília contribui para as pesquisas sobre a resistência Pankará através de sua memória, pois enquanto personagem que viveu e sofreu todo processo de luta, guarda toda sabedoria e a transmite para os mais jovens, sendo fonte viva de nossa história.

Relata com muito orgulho de ser a mãe de grandes guerreiros e guerreiras, da cacica Dorinha, de Maria Emília e Manoel Pedro, fortes lideranças que buscam incansavelmente melhorias para o Povo Pankará. Diz que esse orgulho é fruto de uma cultura que não deixou morrer, que apesar de todos os problemas que enfrentou, os perseguidores do povo não lhe tiraram o que tem de mais precioso, que é a sua identidade.
Atualmente, com mais de 80 anos de idade, conta Emília Olindina que vive rodeada do carinho de seus filhos/as, dos/as netos/as e bisnetos/as. Afirma com muita altivez que hoje pode dar aos seus familiares momentos de alegria, que as histórias vividas só servem para fortalecer a luta que foi e é muito intensa ainda. Diz ainda que não se intimida porque tem ao seu lado a força dos Encantados que protegem e orientam mostrando os sinais.

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