biografia
Dona Lourdinha
Autor(es): Sandra da Silva Pajeú Santos
Biografado: Maria de Lourdes da Silva Pajeú
Nascimento: 1960
Povo indígena: Tuxá
Estado: Pernambuco
Categorias:Biografia, Estado, Pernambuco, Etnias, Tuxá
Tags:Pernambuco; Feminino, Tuxá
Dona Maria de Lourdes da Silva Pajeú nasceu no dia 17 de janeiro de 1960 em Lagoa Grande, filha de Alcides Cícero da Silva e Amélia Maria da Silva, pescador e agricultora, tem oito irmãs. Após a morte de
sua mãe viu sua família se espalhar pelo mundo, suas irmãs e pai partiram para construir suas vidas em lugares diferentes.
Quando criança não teve a oportunidade de estudar, pois seu pai precisava das filhas para ajudar
no roçado, na caça e na pesca para sobreviverem. Ela sofreu muito nessa época, a vida da família pobre no sertão era muito árida, apesar disto ela relembra que acreditava em um futuro bem melhor e que tudo seria diferente. Quando chovia no sertão tudo ficava mais lindo e com isso ela construía muitos outros sonhos, como fazem crianças de sua idade.
Toda sua infância foi marcada pela relação com a natureza, Dona Maria de Lourdes conta sobre seu
tempo de menina, que tinha um hábito muito diferente das outras crianças, ela não podia ver nenhum
animal preso que em seguida ela soltava. Seu pai ficava furioso quando caçava alguns pássaros para
comer e ela, sentindo muita pena dos passarinhos, os soltava e dizia que os pássaros eram livres, pois
Deus os tinha feito para voar e cantar para nos alegrar. No tempo da seca colocava um caco com água
debaixo das árvores para os bichinhos beberem água, os camaleões, tatus, pebas, casacos e outros
animais que passavam por aquele caminho à procura de água. Aos 19 anos casou com Geraldo Hortencio Pajeú, índio Tuxá, com ele teve sete filhos e a sua primeira filha morreu ao nascer. Foi uma grande tristeza, ela conta que sofreu muito, mas os Encantos de Luz e Deus ajudaram na recuperação desse abalo em sua vida. O tempo passou e Maria de Lourdes engravidou novamente, teve um filho e deu-lhe o nome de Romildo cujo significado é “senhor da lança de prata”, três anos depois teve mais um filho.
Durante essa época de moça nova, construindo sua nova família, o povo Tuxá passava por um período muito difícil de violação do seu direito territorial. Viviam um grave conflito com a Chesf (Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco) que tentava tomar as terras dos índios para construir a hidroelétrica de Itaparica.
Os índios Tuxá, diante da ameaça da perda do seu território tradicional e pressionados a aceitar a remoção, brigaram bravamente, mulheres e homens, mas o poder do dinheiro falou mais alto. O governo, junto com a Chesf, expulsou o povo Tuxá de sua terra, a ilha da Viúva, lugar histórico, morada dos nossos encantados das matas e das águas. Foi uma violência irreparável.
Com a expulsão do território Dona Maria de Lourdes e seu esposo Geraldo não tinham para onde ir com
duas crianças pequenas. Ela descobriu que estava grávida novamente, foi ficando mais difícil, pois o povo Tuxá ficou dividido e disperso, não sabiam o que iriam enfrentar no futuro. No processo de negociações a Chesf comprou um terreno como indenização aos Tuxá e ao chegarem à nova terra nada encontraram naquele lugar.
Na memória de Dona Lourdes esse foi um período desafiador, pois eles tiveram que reconstruir tudo novamente e se apresentava um grande obstáculo: construir uma nova aldeia para o povo Tuxá. Muitas lideranças e famílias, com amargura em seus corações, resolveram reconstruir suas vidas na cidade mais próxima, a cidade de Inajá. Lá procuraram emprego e se estabeleceram mesmo sendo humilhados e explorados na cidade.
Dona Maria de Lourdes e seu marido também foram para a cidade, mas não suportou aquele lugar, para ela era uma prisão, pois vinha de uma vida num território autônomo. Na cidade, por mais que o seu esposo trabalhasse, o dinheiro não era suficiente para sustentá-los posto que a família havia crescido. Então ela resolveu fazer suas malas e partiu com seus filhos ainda pequenos para a nova aldeia. Seu esposo, ao chegar do trabalho, não encontrou ninguém em casa e saiu a procura dela. Na nova aldeia ela deu início aos plantios e a cuidar de alguns animais, como complemento da alimentação de sua família. E assim tudo recomeçou. A coragem do Dona Maria de Lourdes foi transformar um
pedaço de terra em um território indígena.
Hoje a aldeia está erguida, muitos dos índios e índias que estavam na cidade seguiram o exemplo de
Maria de Lourdes e foram para a aldeia. Lugar de índio perto da natureza, nós cuidamos da terra, e gostamos de viver em comunidade.
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