biografia
Dona Maria
Autor(es): Eliane Vieira da Silva
Biografado: Maria Antonia da Silva
Nascimento: 1954
Povo indígena: Pankararu
Estado: Pernambuco
Categorias:Biografia, Etnias, Pankararu, Estado, Pernambuco
Tags:Pankararu, Pernambuco; Feminino
Maria Antônia da Silva nasceu no dia 03 de janeiro de 1954, filha de Manoel Joaquim de Souza e Antônia Maria de Jesus é natural da aldeia Geripancó, no estado de Alagoas. O povo Geripancó e o povo Pankaiwká são pontas de rama do povo Pankararu, ou seja, somos todos parentes e nossa origem é o tronco velho Pankararu.
Ela é uma mulher consciente de seus deveres na tradição indígena e desde criança aprendeu com seus
pais e avós a importância da luta pelo seu povo e nunca se negou diante dos obstáculos que surgiram na trajetória de resistência dos povos indígenas. Dona Maria Antônia morou entre seu povo Geripancó até os 35 anos de idade, portanto sua infância e juventude foram vividas por lá. Atualmente reside na aldeia Pankaiwká desde o período da retomada do território (fazenda Cristo Rei), no início deste século.
As suas narrativas sobre a resistência indígena no Nordeste trazem informações do seu povo Geripancó
que vive em Alagoas e isso tem grande importância para nós, pois conhecer as trajetórias das pontas de rama é uma forma de manter o povo relacionado, sem se perder. Dona Maria conta que houve um período de muita dificuldade em Geripancó, a terra não estava demarcada, o povo não tinha as condições para garantir sua sobrevivência e sofria principalemente com a falta d’água.
Sem acesso a água, ela e sua família foram forçados a iniciar mais uma migração, e mudaram-se para
um povoado na região conhecida por Volta do Moxotó, em Pernambuco, município de Jatobá. Este lugar é bem próximo ao território de origem, o Brejo dos Padres, é um lugar que tem água, pois é beira do Rio Moxotó. Ao chegar, adaptou-se logo, e alí se estabeleceram para terminar de criar os filhos.
A escolha deste lugar não foi aleatória, ou apenas por causa do rio, conta Dona Maria que na Volta do
Moxotó tinha um local chamado “Alto do Zé Onça” onde os índios se encontravam para fazer o ritual tradicional. Neste lugar também moravam algumas famílias indígenas, então teve início a união diante da necessidade de terras para trabalhar, viver e fazer os rituais sem ameaça dos não-índios. Assim começam as lutas pelo territorio e as conquistas do povo Pankaiwká.
Foi neste período de luta pela terra que Dona Maria começou a se destacar no povo, quando se uniu aos seus parentes no processo de retomada de um território vizinho ao povoado da Volta do Moxotó. Segundo conta, aquelas famílias indígenas da Volta do Moxotó se reuniram e com seus filhos vieram à luta. Naquele momento as dificuldades surgiram, aproximadamente 100 famílias se abrigaram na “fazenda Cristo Rei” no início da luta pelo território. As pessoas vieram sem nada e dentro da fazenda existiam três casas que eram usadas para guardar materiais de irrigação. Então, muitas daquelas famílias se abrigaram dentro de um salão, dormiam todos juntos, crianças, adultos e alguns idosos, mas a maioria das famílias tiveram que dormir debaixo de árvores na beira do rio. Algumas faziam suas barracas com saco de náilon, mas não escapavam dos insetos. Dona Maria presenciou todos os momentos difíceis do povo que hoje é o povo Pankaiwká.
Nessa história é importante recordar o papel mais importante que Dona Maria desempenhou
além do seu esforço para fortalecer o povo diante dos problemas. Naquele tempo não havia comida,
receberam alimentação de um órgão público, mas como as famílias estavam trabalhando na área retomada para plantar, Dona Maria se encarregou de cozinhar para todos. Ela cozinhou dias e dias, até que todos se instalassem naquele território. E assim foi até cada família adquirir condições de cozinhar sua própria comida. Desde então as coisas foram melhorando e com o tempo todos estavam plantando,
pescando e caçando.
Diante de muitas lutas Dona Maria não desistiu, ela trabalha até hoje ao lado de seu povo, é participativa, atenta aos acontecimentos bons e ruins e pronta para aconselhar e ajudar seus parentes indígenas. É uma mulher da tradição e está disposta nos momentos de rituais. Ela participa principalmente da organização de comidas e bebidas nas festividades tradicionais.
Seu percurso de vida foi de Geripancó (AL) para a Volta do Moxotó (PE), até a Fazenda Cristo Reis, que hoje é a Reserva Indígena Pankaiwká.
Essa guerreira é uma mulher que não tem medo de falar a verdade, pois seus antepassados da aldeia Geripancó lhes ensinaram que a vida nos foi dada para lutar!
Ela diz que hoje se sente feliz com as conquistas do seu povo e nos ensina que na luta indígena as conquistas chegam a cada tempo, sendo o mais importante manter o seu povo forte e preparado.
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