biografia

Dona Marinha

Autor(es): Jaqueline Maria dos Santos
Biografado: Maria Francisca dos Santos
Nascimento: 1933
Povo indígena: Pankararu
Terra indígena: Aldeia Jitó
Estado: Pernambuco
Categorias:Biografia, Etnias, Pankararu, Estado, Pernambuco
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Maria Francisca dos Santos, conhecida como Dona Marinha, tem importante participação na cultura tradicional do povo Pankararu, pois ela é uma grande parteira. Nasceu em 1933, na aldeia Jitó, local onde mora até hoje. Sua mãe, Chiquinha, foi uma importante parteira do nosso povo e transmitiu à filha os saberes do parto, das ervas e das orações. Para nós Pankararu, o parto faz parte da tradição, por isso é um tipo de saber que começa no sagrado.
Aos 25 anos de idade Marinha é iniciada e começou a fazer parto acompanhada e instruída por sua
mãe, o último parto fez aos 78 anos, essa criança que ajudou a vir ao mundo é filha de uma sobrinha. Dona Marinha conta que muitas vezes largava tudo, mesmo cansada, para atender as pessoas que vinham chamá-la para fazer um parto, porque ela gostava de ajudar ao próximo e se sentia feliz com o que fazia.
Durante a infância ouvia de sua avó a história de luta do povo Pankararu, “ minha vó Lorença dizia que
antes tinha muita riqueza de fontes de água, a terra era boa de plantio, por isso os fazendeiros tomaram
as terras dos índios e expulsaram”. Explica que foram muitas dispersões, mas a resistência no Brejo dos
Padres foi maior até que conseguimos a demarcação das terras.
De todas as histórias e saberes do nosso povo, a felicidade de Dona Marinha está no dom de ajudar a
trazer vidas ao mundo. Ela conta que na aldeia não tem alegria maior do que ver os pais e as mães felizes com a chegada de seu filho ou filha com saúde. Gosta da hora de soltar os fogos avisando a todo mundo que o(a) filho(a) nasceu. Os pais soltam dois fogos se for mulher e três fogos se for homem.
Dona Marinha explica que as mulheres precisam de um grande repouso após o parto, por exemplo:
não sentar de qualquer jeito, seguir um tipo de alimentação específica ensinada pela parteira, se banhar
somente com remédios encontrados dentro da aldeia como marcela, arruda, casca de cajueiro, etc. São
plantas medicinais do conhecimento das parteiras: a marcela serve para limpar as sujeiras do parto que ficam dentro da mulher, e hoje essa planta está reduzida na mata, encontra-se apenas na beira do rio. A casca do cajueiro se coloca de molho e a água é ingerida para ajudar a cicatrizar ou “fechar o útero” e também para fazer os banhos de assento. O mastruz também é usado para beber ou amarrar na cabeça para combater dores e infecção. A laranjeira é usada para acalmar os nervos, serve-se o chá após o parto. A catingueira é amarrada no pé da barriga por causa da morfina, para o útero voltar ao seu devido lugar.

Maria Francisca dos Santos é parteira, mulher guerreira e importante figura na nossa tradição, poistodos os anos é responsável por receber o cipó na tradição Pankararu chamada Flechamento do Imbu.

Ela pertence a uma geração familiar de parteiras tradicionais, domina um saber transmitido de geração para geração. Por muito anos fez o que sabe, com muita garra e satisfação, porque ela nasceu e cresceu dentro do saber da parteria. Permanece sendo importante na tradição, ela é a moça mais velha do terreiro sagrado do muricizeiro durante o ritual do flechamento do Imbu, que para todos é um momento único. Os índios chegam cantando o toante e tia Marinha, como também é conhecida, de forma firme e forte segura no cipó.
É mais lindo e emocionante quando ela entrega o cipó para nossos Encantados darem inicio ao primeiro
ciclo da nossa tradição e neste momento passamos a saber se o cipó sobe ou desce, indicando se tem bom ano de colheita. Quando desce é ano ruim de seca, quando sobe é bom ano de colheita.
Dona Marinha é uma mulher Pankararu sábia, sempre reafirma, valoriza e fortalece a memória dos
nossos ancestrais nos rituais, no uso dos remédios, nas orações, nas comidas e bebidas, passando de geração a geração seus saberes tradicionais.
Maria Francisca dos Santos é guerreira de tradição cultural, identidade, valor, história e memória. É uma
mulher amada por nós.

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