biografia
Felisberto Maurício
Autor(es): Aldo Arcanjo Muçambito
Biografado: Felisberto Maurício
Nascimento: 1944
Povo indígena: Kokama
Estado: Amazonas
Categorias:Estado, Amazonas, Biografia, Kokama, Etnias, Kokama
Tags:Amazonas, Kokama, Masculino
Nas décadas dos anos de mil novecentos e setenta e dois (1972), possivelmente em janeiro de mesmo ano acima citado, surgiu uma notícia que viria descendo o rio Solimões (AM) um padre santo fazedor de milagres. Quando o padre santo de nome José Francisco da Cruz chegou na faixa de fronteira entre o Peru, a Colômbia e o Brasil, muitas famílias saíram de suas habitações nas cabeceiras dos rios e igarapés e vieram morar nas margens do Rio Solimões. Só então, a partir da vinda mais remota do irmão José Francisco da Cruz neste ano que o senhor Felisberto Maurício da etnia Kokama começou a segui-lo. Depois de uma certa maturidade, quando já havia compreendido mais os ensinamentos do irmão José, o senhor Felisberto Maurício deu início, em São Paulo de Olivença, a sua missão que denominou “Ordem Cruzada Católica Apostólica e Evangélica, Irmandade da Santa Cruz ou Cruzada”. Então, com o passar dos tempos, o senhor Felisberto Maurício embora fosse Kokama não se identificava e cada vez mais observava os preceitos religiosos da missão cruzada onde foi se aprimorando e aprendendo os rudimentos e normas da Santa Cruz.
Nesse tempo, foi observado por vários irmãos seguidores da irmandade de Santa Cruz que se espelharam na própria autonomia e sabedoria que o senhor Felisberto Maurício tinha como dirigente da comunidade. Onde tinha uma cruz plantada com a ordem do irmão José Francisco da Cruz. Com isso, o irmão Felisberto Maurício passou a tomar conta e dirigir igrejas e pregar o evangelho para os adeptos da irmandade de Santa Cruz, autorizado pelo próprio irmão José.
Com o passar dos tempos, Felisberto Maurício de acordo com o seu desenvolvimento na Cruzada, se tornou um grande pregador da palavra de Deus. De diretor passou a ser aspirante a sacerdote. E de aspirante a sacerdote, sacerdote regular regional. E, então, após esses cargos de inspiração probatória, Felisberto Maurício exerceu o cargo de Patriarca religioso da Santa Cruz fazendo vários trabalhos com autorização do irmão José – como, batismos das águas, batismos de apresentação das crianças recém nascidas, casamentos, celebrações de missas dominicais, fazendo mensagens, visitando todas as comunidades nas margens do Rio Solimões e igarapés onde estavam plantadas uma cruz. E com esse aprimoramento, o senhor Felisberto Maurício enfrentou várias guerras com autoridades civis, militares e eclesiásticas em decorrência do auge da missão cruzada, passando uma boa temporada no trabalho de evangelização. Com isso, ele ficou muito conhecido por todos os fiéis da irmandade, que reconheciam as provações pelas quais passaram ele e outros sacerdotes que adotaram a Santa Cruz entre os anos de 1972 e 1983.
Aos vinte e três dias de julho de 1983, faleceu o irmão José no igarapé chamado Jui, afluente do Rio Içá no estado do Amazonas. No período da morte do irmão José, muitos seguidores continuaram na trajetória da irmandade de Santa Cruz, sendo então comandados pelo sucessor do irmão José, o senhor Walter de Souza Neves.
Quando então em 1989 apareceu outro missionário de nome Francisco da Silva da Cruz. Nesse mesmo intuito, o senhor Felisberto Maurício da Silva da Cruz passou a seguir, por alguns anos, o missionário Francisco. Observou que os quesitos e normas do irmão Francisco não o convenceu e, por isso, o abandonou. E só então, Felisberto Maurício em várias viagens que fazia pelos municípios do Alto Solimões via que a população Tikuna e outros indígenas se organizavam de forma muito autônoma e conseguiam seus objetivos. Então, o senhor Felisberto Maurício tomou uma nova direção, quando de forma notória, trouxe em seu próprio intuito de líder religioso traçar um novo caminho para a missão com uma identificação étnica. No ano de 2000, sua comunidade foi a segunda a se identificar como Kokama.
Nesse momento, o senhor Felisberto Maurício, o senhor Manuel Júnior, José Ari e o senhor Anísio Morais dos Santos passaram a liderar o movimento indígena Kokama em São Paulo de Olivença (AM). Começaram a participar de várias reuniões realizadas por outras organizações já existentes dos povos Tikuna. Sendo o senhor Felisberto Maurício de uma família nobre e pobre. Nascido no dia 19 de janeiro de 1944, filho de Santiago Maurício e Sebastiana Muraiare, eram moradores da comunidade de Monte Santo. Após todos esses percursos do tempo, vieram morar na comunidade chamada Colônia São Sebastião. Antes de sua identificação étnica passaram por vários obstáculos descriminatórios. Porém, o senhor Felisberto Maurício nunca ornou (inclinou) a cabeça. Sempre a ergueu porque sabia o que queria e onde iria chegar.
Tentando organizar e convencer o povo a uma identificação étnica porque as comunidades existentes já deixadas pelo irmão José eram Kokama, porém não se identificavam devido ao grande preconceito naquela época. Para o árduo momento de se organizarem, o senhor Felisberto Maurício foi motivado pelo então pelos lutadores do movimento em Sapotal – o senhor Antônio Samias, Francisco Guerra Samias, Cristóvão Macedo Moçambite – todos grandes líderes do movimento organizacional indígena aliados ao senhor Felisberto Maurício, já com certa idade.
No ano de 2000, foi indicado como representante municipal do povo Kokama em São Paulo de Olivença para assim melhor facilitar o trabalho. Após alguns anos, em 2005, em de ocorrência dos problemas de saúde que impediu a carreira do senhor Felisberto Maurício, foi indicado o senhor Aldo Arcanjo Muçambito como representante municipal do povo Kokama. O senhor Aldo Arcanjo continuou a luta do movimento indígena. No ano de 2006, tivemos um evento em Santa Maria da Colônia que foi uma grande reunião que definiu descentralizar as ações da OGCCIPK[1], conhecida como as 7 letras. Assim, em 26 de junho de 2006, foi criada a Associação das Comunidades Indígenas Kokama de São Paulo de Olivença (ACIK/SPO) que atende o povo Kokama até os dias atuais.
[1] Organização Geral dos Caciques e Comunidades Indígenas do Povo Kokama
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