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Jikitaiá – Ísis Passos Brandão

Autor(es): Emily Oliveira de Almeida , Mickaelle Dias Aquino
Biografado: Jikitaiá - Ísis Passos Brandão
Nascimento: 25/08/1997
Povo indígena: Pataxó
Terra indígena: Coroa Vermelha
Estado: Bahia
Categorias:Estado, Bahia, Biografia, Etnias, Pataxó
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Trânsito por Ser(es): uma biografia de Ísis Passos Brandão Jikitaiá Pataxó

Ísis Passos Brandão ou Jikitaiá3, nascida na época marcante da demarcação da Aldeia Coroa Vermelha, viu sua vida entrelaçada com os frutos desse evento histórico. A demarcação não foi apenas um marco geográfico, mas uma ponte que conectou Ísis a uma realidade singular. Na acolhedora atmosfera da “aldeia modelo”, demarcada e estrategicamente situada próxima a uma zona urbana, Ísis desfrutou de privilégios que, na verdade, são direitos fundamentais para todos os indígenas. O ensino bilíngue em português e patxohã, a presença de uma rede de saúde voltada especificamente para a comunidade indígena – todos esses elementos contribuíram para moldar a jornada de Ísis.

Crescer em um ambiente que desafia as limitações historicamente impostas aos povos indígenas permitiu a Ísis explorar territórios que muitas vezes pareciam proibidos para sua comunidade. Contudo, ela reconhece que essa oportunidade não é um privilégio exclusivo, mas sim um direito que muitos outros indígenas são impossibilitados de usufruir. Sua família, dedicada à venda de artesanatos Pataxó por três décadas, sofreu uma reviravolta.

A identidade de Ísis, que não se encaixa nos estereótipos tradicionais indígenas, tornou-se motivo de questionamento e invalidação por parte de terceiros. Enfrentando preconceitos, ela desafia a visão limitada que muitos têm sobre o que significa ser indígena. Para Ísis, a identidade indígena não é estática; é um reflexo das mudanças históricas e uma expressão única de quem ela é.

Como fomento das mudanças, a implementação da escola bilíngue foi feita enquanto Isis já estudava, por isso toda sua trajetória de ensino foi em escolas tradicionais, até que em 2018 ela ingressou na Universidade Federal do Sul da Bahia, na área básica de ingresso com intuito de cursar Psicologia. No entanto, durante a formação geral, Ísis se encantou pela educação influenciada pelo professor Álamo Pimentel, e decidiu cursar Licenciatura em Ciências Humanas e Sociais. Na SEDE, Ísis passou a valorizar sua cultura indígena, instigada pela professora Lara que a levou a pensar nas Carretas e nos Jogos Indígenas como algo cultural e de pertencimento.

Seus pais priorizavam a educação e a colocavam como prioridade na vida das filhas, não deixando com que o trabalho atrapalhasse ou ocupasse o lugar dos estudos. Atualmente Ísis faz mestrado no Programa de Pós Graduação em Antropologia, em Salvador.

A identidade costuma ser um processo de formação contínua, desde a mais íntima das relações da psique ma também se forma em conjunto, acompanhamos então outra parte da trajetória de Ísis, que atuou no Colégio Estadual Indígena Coroa Vermelha durante três anos – 2021 a 2023 –, sua atuação teve início através de um convite informal, por haver a necessidade de professores da área. Durante parte dessa trajetória, sua jornada não era remunerada, dessa forma, Ísis lecionou 4 matérias por 1 ano, de maneira voluntária, e 7 matérias nos anos seguintes, participando do corpo docente da escola, se esforçando e dedicando para oferecer aulas de valia educacional. Ela conta as dificuldades que é enfrentar o ambiente escolar, estar em uma sala de aula compõem diversos mecanismos que precisam ser construídos e desconstruídos frequentemente para ser professor. ser construídos e desconstruídos frequentemente para ser professor.

Mulher, índigena, professora e estudante, o reconhecimento de seu trabalho na comunidade foi ficando reconhecido. Com a volta a sua comunidade indigena, depois do “distanciamento” por consequencias do cotidiano, adentrar ao projeto de reconstrução do acervo do Museu de Coroa Vermelha aproximou-a com o corpo social de origem, por trabalhar vividamente com sua cultura. Pode-se notar que sua contribuição e atuação em sua comunidade é através da educação, seja ela como docente para jovens tanto indígenas como não indígenas, e na construção da memória de seu povo através de projetos acadêmicos.

Em 2018, Ísis ganhou uma bolsa de estudos para fazer um curso de doulagem. Após este ingresso, ela percebe o quão comum e naturalizado é sofrer violência obstétrica no Brasil. Ísis passou a militar contra a violência obstétrica e passou a compor o Coletivo Parto Seguro. No entanto, o interesse das pessoas da sua comunidade em ter o acompanhamento de doulas foi crescendo lentamente, por não saber o que é, qual a função e não ter conhecimento sobre os seus direitos enquanto pessoa grávida. Como doula, além de auxiliar na hora do parto, Ísis também elabora material didático e educa as famílias atendidas sobre os termos técnicos e tudo que tenha relevância no período gestacional. Ísis pretende voltar como Antropóloga do parto e atuar em sua comunidade indígena, com a experiência de alguém nativa do lugar.

Fazendo um breve amparo ao seu passado, mencionando como era sua relação ao Sentir indígena: sua passagem pela adolescência a sua fase adulta, e como isso mudara conforme sua interação com o meio acadêmico diante ao contato com problematizações como descolonização de pensamentos e de epistemologias. Essa interação fez com que se vinculasse cada vez mais com a sua ancestralidade e suas raízes, sendo indigena, tendo orgulho de ser e se sentir pertencente.

Com a crescente força que a etnia Pataxó trouxe ao movimento indigena, Isis se mantém esperançosa quanto ao futuro de seu povo, destacando a presença singular e efetivadora que as jovens lideranças e seus mais velhos estão construindo a cada dia. A entrevistada aponta uma crítica baseada em sua vivência de estarmos inseridos em bolhas, onde há apenas a comunicação entre pares, o que é prejudicial a potencialização e propagação do conhecimento presente no movimento indigena, mas mantém-se esperançosa devido aos diversos caminhos que são direcionados a epistemologia de Ser Indigena, considerando os diversos saberes das diversas Etnias indígenas presente em nosso país, saindo da história contada desde 1500.

A ancestralidade, aquilo que nos diz quem somos e a que pertencemos. Nas considerações finais, Ísis apresenta a necessidade de nos vincular com os nossos ancestrais, como a presença do saber daqueles que já se passaram pela carne pode nos ensinar a cada dia, pensando em ter como referência aquilo que te pertence, aquilo ao qual você se pertence. Ela explica que em sua trajetória houve momentos que ela fora impetuosa consigo, comparando-a com histórias que não condiz com o ser dela. Ter paciência em ouvir e desenvolver a sabedoria que o passado pode nos oferecer, é tomar consciência do que você significa para si e para seu povo. “Eu sou, o que elas são”, ela referencia a construção que as gerações passadas de sua família, principalmente de mulheres, cumpriu e cumpre o papel de sentir-se bem como o que ela está se tornando, e como isso move e valida seus porquês para si. Parte de se sentir pertencente é construir sua identidade, é ligar-se a suas versões e as versões de quem você admira.

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