biografia
Lutas de sangue: dona Delza e a mobilização indígena no Piauí
Autor(es): João Paulo Peixoto Costa , Hilda Helena Alencar Luz , Matheus Expedito de Assis Santos , Henrique Gabriel Alvez Lima
Biografado: Dona Delza
Nascimento: 1958
Povo indígena: Gueguê
Estado: Piauí
Categorias:Biografia, Etnias, Gueguê, Estado, Piauí
Tags:Feminino, Guegue, Piauí
Deulzenir Pereira dos Santos, a dona Deusa, é indígena da etnia Gueguê nascida em 1958 no povoado Sangue, distrito de Uruçuí, no Piauí. O lugarejo recebe este nome em referência a um massacre sofrido por índios no século XVIII, de onde uma moça foi sobrevivente e de quem a família de dona Deusa afirma ser descendente. Viveu no povoado até a adolescência, quando ela e seus parentes foram expulsos por um coronel da região. Na ocasião, jagunços encheram sua casa de veneno e estacas de madeira.
A expulsão do Sangue e a mudança para Uruçuí em 1976 se deram durante a ditadura militar, que se manifestava no sertão do Nordeste pela consolidação do poder das oligarquias. Já na área urbana Deusa ainda sofreu muitas perseguições por parte do prefeito da época.
Em 2016 decidiu entrar na justiça para reaver as terras que lhes foram usurpadas. Dona Deusa utiliza como argumento na ação a própria ancestralidade: para ela, o sangue de sua família foi derramado naquele lugar há séculos. Ou seja, a memória comunitária fundamenta sua identidade indígena e dá força na luta pelo Sangue. Já neste ano de 2019 Deusa se aproximou do movimento indígena do Piauí, somando sua atuação com a de outros grupos.
O contexto em que dona Deusa iniciou sua luta na justiça pelas terras do Sangue é marcado tanto pelo fortalecimento do movimento indígena no Piauí – onde ainda se nega a existência dos índios – quanto por muitos ataques. A primeira sede da FUNAI no estado foi criada em 2010 e desativada em 2017. Mas apesar da ascensão de políticas federais anti-indigenistas, as comunidades se articulam cada vez mais em todo o território piauiense. Desde o início da luta no judiciário, em 2016, Deusa desempenha papel importante de recuperação da história indígena do povoado, onde poucos se pronunciavam a respeito por medo das mesmas oligarquias. Os relatos fornecidos por ela em projetos desenvolvidos no IFPI a partir de 2017 deram visibilidade à etnia Gueguê e incentivo para que mais pessoas possam falar sobre suas memórias e identidades indígenas na região. Em 2019 se aproximou de outras comunidades no sul do estado, que se articulam contra violentos processos de exclusão e silenciamento. Sua trajetória segue, portanto, à margem da chamada “história oficial”: além de mulher e indígena, luta contra os poderosos por sua terra e identidade, reafirmando que, apesar dos massacres, os índios estão vivos!
Dona Deusa na II Semana dos Povos Indígenas do IFPI- Uruçuí, abril de – acervo pessoal de João Paulo Peixoto Costa
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