biografia

Manoel Selestino da Silva Aconã Xukuru-Kariri

Autor(es): Clovis Antunes
Biografado: Manoel Selestino da Silva
Povo indígena: Wakona-Kariri – Xukuru
Estado: Alagoas
Categorias:Estado, Alagoas, Biografia, Etnias, Xukuru-Kariri
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Manoel Selestino da Silva Aconã, Manoel Wakona, do povo Wakona-Kariri – Xukuru, é o atual Cacique como afirmam os Kariri-Xukuru, habitantes no povoado Serra do Capela, em Palmeira dos Índios/AL.  Recebeu esse título de seu pai, o velho Cacique Alfredo Selestino, líder das mobilizações indígenas, e de quem recebeu a herança familiar para a continuidade cultural indígena.  Em 1952, Alfredo Selestino, com o apoio do Padre Alfredo Dâmaso, Pároco de Bom Conselho/PE, conseguiu que os índios dispersos pelo Município de Palmeira dos Índios fossem amparados pelo Serviço de Proteção dos Índios/SPI. O SPI comprou uma fazenda com 350 hectares do então Prefeito Juca Sampaio, denominada Fazenda Canto.

Seguindo as orientações de seu pai Alfredo, falecido em abril de 1979, Manoel foi reconhecido imediatamente como Cacique hereditário em abril daquele ano, e reconhecido pela Funai em Brasília, em julho do mesmo ano, em documento firmado pelos índios: “Os abaixo assinados em reunião afirmarão de suas próprias vontades que Manoel Selestino é o verdadeiro Cacique e deve continuar cumprindo os feitos de seu pai Alfredo Selestino”. Em todos os momentos histórico vivenciados pelos Kariri-Xukuru, Manoel Selestino esteve sempre presente, procurando a promoção e o reconhecimento do povo indígena e o direito às suas terras.

Nos anos idos de 1822, os índios reivindicaram meia légua de terra em quadro no Município de Palmeira/AL, à partir da Matriz, atualmente Catedral, cujo orago é Nossa Senhora do Amparo. Afirmavam que “tinham recebido em doação esta terra, em 1773, de Dona Maria Pereira Gonsalves para Frei Domingos de São José construir uma capelinha para os índios”. Anualmente em 20 de julho é comemorada a Fundação da Cidade, lembrando a doação em julho de 1773.O processo foi julgado legal, em 1861, mas devido á burocracia estatal que privilegiava os interesses dos invasores, os indígenas não tomaram posse das terras.

Somente após um século e meio, em março de 2015, assinado pelo Juiz Federal de Arapiraca/AL, Juiz Antônio José de Carvalho Araújo, o Ministério Público Federal definitivamente foi reconhecido o direito dos índios. Manoel Selestino sempre acompanhou todos os trâmites do processo. Viajava para Maceió, Rio de Janeiro e Brasília, à procura de documentos para o reconhecimento à sua identidade e direitos às terras reivindicadas pelos indígenas.

Uma participação importante de sua liderança foi a tomada da “Mata Cafurna”.   Uma reserva florestal, onde o açude existente abastecia o Município de Palmeira do Índios e cidades limítrofes.  A área foi doada, em 1942 à Prefeitura, pelo Governo do Estado de Alagoas. Na construção de um novo grande açude no vizinho Município de Quebrangulo, o Prefeito Noé Simplício colocou à venda, por edital, a Mata Cafurna.  Os índios se revoltaram alegando ser a área um território indígena. Conseguiram apoio da Sociedade Alagoana de Defesa dos Direitos Humanos, sediada em Maceió/AL e o Governo Federal, através da Minter/Funai pela Portaria 959/E-DOU. A FUNAI firmou acordo com a Prefeitura com indenização da área em 23/02/1981 e doou aos Índios Wakona-Kariri-Xukuru, em julho de 1981.

Manoel Aconã sempre presente nas mobilizações do seu povo. Em 1969, com o seu pai Alfredo, o tio Miguel, seus irmãos Milton, Benedito, acompanharam o antropólogo Clovis Antunes na pesquisa de vestígios arqueológicos, à fim de provar o direito à posse das terras pelos indígenas. Na ocasião, em uma gruta do Serrote do Goiti, foram encontradas e desenterradas na entrada da gruta urnas funerárias, chamadas igaçabas, onde eram sepultados os mortos. As igaçabas foram doadas ao Museu Xukuru, localizado na cidade de Palmeira, e uma outra destinada ao Instituto Arqueológico Histórico de Alagoas, em Maceió/AL.

Como todo líder na sua trajetória de subidas à planaltos e descidas à planícies, Manoel Aconã sempre seguiu ou não, a vontade do seu povo. Atualmente o idoso Manoel Wakonã lidera seu povo, com o principal objetivo de afirmar a identidade étnica e seus direitos, organizando jogos indígenas; participando da dança do Toré (tôlhêlhá, dança do ritual sagrado) com xíxílhá ou xíxíá na mão ao ritmo do bater dos pés e com a bebida “gulijó” ou “aluá” e o vinho garapa “nêúíká”;  cultuando e divulgando a crença nos Encantados, os Espíritos do Bem, com a bebida “ álúá”; fumando no “quaqui”  ou ”pôá” (o cachimbo da paz), para espantar os maus espíritos; utilizando como adorno um colar artesanal de sementes e o cocar colorido de penas de aves para reverenciar a floresta ao invocar Deus (Dêjúálhá, na língua Kariri)

Para o Cacique Manoel Selestino Wakonã, antes de tudo, o índio: é ser, é ter, é construir, é resistir, é lutar pela sua afirmação da identidade étnica no Município de Palmeira, no Nordeste do Brasil e em todo País. O Cacique Manoel Selestino pode ser um paradigma para todos que desejam prestar algum serviço ao Povo…

*Clovis Antunes Carneiro de Albuquerque, Antropólogo e Professor Adjunto aposentado do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes/CECIHLA-Depto ESO da Universidade Federal de Alagoas/UFAL.

E-mail: c_antunes30@hotmail.com

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