biografia
Pedro Ciríaco
Autor(es): Estevão Palitot
Biografado: Pedro Ciríaco
Morte: 1953
Povo indígena: Potiguara
Estado: Paraíba
Categorias:Biografia, Estado, Paraíba, Etnias, Potiguara
Tags:Masculino, Paraíba, Potiguara
PEDRO CIRÍACO – Em um relatório do Serviço de Proteção aos Índios de 1923, Pedro Ciríaco é mencionado como ajudante do chefe Manoel Santana e casado com Bella Conceição. Morando na aldeia São Francisco, o casal tinha os filhos: Francisca (15 anos), Theophilo (14), Manoel (9), João (6), Celina (5), Maximiniana (3), José (1).
Pedro Ciríaco liderava uma outra grande parentela indígena na aldeia São Francisco e desentendeu-se com o Regente Manoel Santana em algum momento nos anos 1930. A partir daí passou a organizar uma segunda linhagem de líderes indígenas, localizada na aldeia São Francisco e que se contrapunha, em diversos momentos, às ordens emanadas do Posto Indígena sediado na Baía da Traição.
Após o falecimento de Manoel Santana, no ano de 1942, Pedro Ciríaco assumiu a liderança dos índios da aldeia São Francisco contra a vontade do Posto Indígena. Reivindicando o direito de fiscalizar as terras e arrecadar os recursos da ocupação das mesmas por agricultores não-indígenas tornou-se um elemento problemático para os interesses do órgão indigenista, que buscava auferir rendas com o arrendamento de parcelas de terras. A documentação do Serviço de Proteção aos Índios cita várias reclamações de encarregados contra ele e os índios que liderava, primeiro sobre a retirada de madeiras, depois a respeito da arrecadação das rendas que deveriam ser recolhidas no posto e ainda sobre o controle dos coqueirais do Sítio das Cardosas (em torno de 2000 pés).
Em fevereiro de 1948, um grupo de índios foi preso no Posto Indígena por estar cortando madeira e fazendo carvão. Fato que provocou a revolta dos Cabocos do Sítio, que desceram de São Francisco para o Forte e espancaram o chefe de posto Leonel Carneiro de Morais, libertando os presos.
Ainda no ano de 1948 houve a tentativa de demarcação das terras indígenas por parte do SPI, quando foi contratado um agrimensor e, apesar, de terem sido pagas algumas parcelas adiantadas do trabalho, este foi paralisado antes de finalizar a segunda etapa, em 1949. Os índios liderados por Pedro Ciríaco reclamavam que mesmo esta demarcação vinha deixando de fora áreas ocupadas por sitiantes da vila de Mataraca, ao longo de 4 léguas do rio Camaratuba e que a Companhia de Tecidos Rio Tinto vinha ocupando grandes extensões entre o marco das balanças que havia sido modificado de lugar e a Gruta do Gurubu.
Em função desses desentendimentos tornou-se corriqueira a solicitação de força policial por parte do Chefe de Posto para confrontar os indígenas liderados por Pedro Ciríaco. Esta situação marca ainda hoje as lembranças dos descendentes de Pedro Ciríaco. Principalmente o episódio da prisão dele e de seus filhos homens, em 1949. São levados presos pela polícia, ele segue para a penitenciária em João Pessoa e os seus filhos ficam retidos em Mamanguape, durante alguns meses.
Em 1951, foi proposta a remoção de três famílias da área indígena por virem cortando madeira e perturbando os trabalhos do Posto: os Ciríaco, os César e Antônio Cassiano. Utilizando-se de uma retórica da mistura, o encarregado do posto, Arquimedes Souto Maior, procurou deslegitimar Pedro Ciríaco acusando de ser um dos índios mais mestiços e que estava em constante rebeldia, incitando outros índios. Contudo, a Inspetoria ponderou que seria muito dispendioso transferir essas famílias para outra área e se negou a cumprir a solicitação do encarregado. Contudo, foi acionada a presença de força policial que Souto Maior solicitou para coibir os índios.
No ano de 1952, o SPI tentou mais uma vez demarcar as terras indígenas, mas encontrou dificuldades, pois nenhuma empresa de serviços topográficos apresentou-se para realizar o trabalho. Além disso, o Chefe de Posto Francisco Sampaio mencionava que: Existe grande descontentamento dos índios liderados por Pedro Ciríaco, sobre a linha anteriormente medida, que dizem estar errada, alegando que o marco denominado Balança que faz canto da medição, fica a uma légua acima do atual tomado como verdadeiro.
Por fim, em 1953, Pedro Ciríaco vem a falecer, deixando a liderança para um de seus filhos.
Fontes
MOONEN, Frans & MAIA, Luciano Mariz. Etnohistória dos Índios Potiguara: Ensaios, Relatórios e Documentos. João Pessoa: PR/PB-SEC/PB. 1992.
_________. (Orgs). História dos índios Potiguara: 1500-1983. 2 ed. Digital. Recife, 2008a.
PALITOT, Estêvão Martins. Os Potiguara da Baía da Traição e Monte-Mór: história, etnicidade e cultura. Dissertação de mestrado, PPGS/UFPB. 2005.
VIEIRA, José Glebson. A (im)pureza do sangue e o perigo da mistura: uma etnografia do grupo indígena Potyguara da Paraíba. Curitiba. Dissertação de Mestrado. PPGAS/UFPR. 2001.
VIEIRA, José Glebson. Amigos e competidores: política faccional e feitiçaria nos Potiguara da Paraíba. Tese (doutorado em Antropologia). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
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